ARTE URBANA

Vhils expõe na Caixa Cultural e faz obra no Cais de Santa Rita

Mostra "Incisão" apresenta obras criadas durante residência artística vivida pelo português em aldeia guarani

Eugênia Bezerra
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Eugênia Bezerra
Publicado em 21/11/2014 às 6:00
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A face de uma mulher será vista de agora em diante na lateral do Edifício São Jorge, localizado na esquina da Rua da Praia com a Travessa do Arsenal de Guerra, no bairro de São José. A obra do artista português Alexandre Farto, conhecido como Vhils, foi criada esta semana. A história desta mulher e de outras pessoas com as quais ele conviveu durante uma residência artística na Aldeia Araçaí, em Piraquara (PR), são expressadas na mostra inaugurada nesta sexta-feira (21/11), às 19h30, na Caixa Cultural. Os rostos e elementos das vidas delas estão representados nas portas antigas, fotografias e vídeos reunidos em Incisão.

A obra no Cais de Santa Rita simboliza a vontade que Alexandre tem de criar uma conexão com a cidade. "A exposição é resultado de um trabalho de duas semanas. A obra foi criada em colaboração com artesãos que moram nesta aldeia. Meu trabalho tem uma reflexão sobre o modelo de desenvolvimento aplicado no mundo, atualmente, e a dificuldade que algumas comunidades encontram de manter suas raízes, com outras maneiras de viver a vida. São comunidades ameaçadas e a ideia é continuar a relação com estas pessoas", afirma Vhils.

A importância de retornar e manter o elo com os participantes do projeto é ressaltada pelo artista, que já esteve cerca de dez vezes no Brasil, onde também viveu esta experiência na Ladeira dos Tabajaras (2013) e no Morro da Providência (2012). Estas e outras vivências do artista são contadas no livro Descascando a superfície. Alexandre retrata as pessoas, com uma técnica na qual faz incisões nas paredes e portas, e ao mesmo tempo contribui para a divulgação das histórias delas. Lida com as características plásticas das camadas de cimento, tinta e papel, enquanto cria imagens com camadas de significados.

"É usar a arte para chamar a atenção para algo, por foco em situações nas quais as pessoas não teriam suas vozes ouvidas. A imagem cria uma conexão visual e afetiva. As pessoas queriam saber mais sobre as outras. A ideia é que a comunidade não seja só um tema, as pessoas participaram e se envolveram comigo. Com esta intervenção nós queremos ajudar também, conseguir reformas para a própria aldeia", continua ele.

As expressões criativas de Vhils seguem nos universos audiovisual e musical. Ele dirigiu com João Pedro Moreira um clipe da banda Buraka Som Sistema e, recentemente, foi um dos artistas convidados pelo U2 para criar os vídeos das novas músicas da banda.

"Comecei pelo grafite, aos 13 anos. Assim que terminou a ditadura em Portugal, os grupos de esquerda usavam murais para se comunicar. Nasci no final dos anos 1980, quando estes murais estavam queimados do Sol, com partes caindo. Mais tarde, quando comecei a pensar no que queria fazer no grafite, lembrei destes murais. Via de um lado estas pinturas e do outro a publicidade, depois os grafites, ou a Prefeitura começava a pintar. Ao invés de criar mais camadas, pensei em gravar o meu trabalho, revelar o que está nas estranhas, tornando visível o invisível", explica.

 


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