Obras dos artistas Renato Valle e Christina Machado compõem a exposição Visões do outro, inaugurada nesta terça-feira (19/5), na Arte Plural Galeria, às 19h, com um evento para convidados. Questões como memória e transformação são destacadas pelo galerista Fernando Neves entre os assuntos que podem ser relacionados às mostras. "Todo aniversário é fim de um ciclo e início de outro. Escolhemos esses temas porque evocam exercícios saudáveis que o humano realiza nesses marcos", esclarece Fernando no texto feito para a abertura da dupla exposição, com a qual a galeria localizada na Rua da Moeda celebra seu décimo aniversário.
Autor de um reconhecido trabalho em desenho, Renato Valle leva para esta mostra algumas obras nas quais utiliza, além do grafite, um material incomum: uma agulha de crochê. Não se trata de um objeto qualquer, mas uma peça que pertenceu à mãe do artista, já falecida, o que faz com que a escolha dele estabeleça um elo entre a obra e a memória pessoal do artista. "São minhas memórias da infância, do Recife, de minha relação com a religiosidade, família, política", detalhou Renato em depoimento sobre a exposição.
O primeiro passo para a criação deste conjunto de obras foi fazer as marcas sobre a tela ou papel. Depois, o artista passou o grafite sobre as incisões feitas com a agulha de crochê na superfície, revelando os contornos das figuras criados anteriormente. Renato fez 392 destes desenhos (todos com 8 x 8cm). Com eles, foi composto um grande painel (que tem 2,5m de largura por 1,3m de altura).
Além deste conjunto de obras, o artista também leva para a Arte Plural um políptico formado por 15 telas, relacionadas à simbologia cristã. A criação de um dos desenhos de Renato (que ficarão expostos na galeria até junho) está relacionada a uma das peças que Christina apresenta no local – o que configura mais uma possível interpretação para o título Visões do outro. A conexão começa pela escultura O beijo, criada por ela anos atrás.
"Guardei a maquete dessa escultura que foi para o Shopping Recife. Sempre gostei muito da maquetinha e, ano passado, criei um novo sentido para ela. Não é um protótipo de O beijo, mas uma nova escultura, vou transformá-la em uma série de 60 peças, chamada Sem chão versus nas nuvens. É um novo momento dela", revela a artista.
"Esta é uma peça que, no início, nem iria para a exposição, mas terminou chegando e ocupando um espaço poderoso. Aí Renato cresceu muito o trabalho porque resolveu criar uma leitura dela para uma série que ele faz, Abraço. Foi lindo isso acontecer, porque chega perto do que Raul (Córdula, curador), buscou na exposição, que é falar sobre estas visões do outro", explica Christina, que identifica mais um elo entre as duas produções: "Faço o que vier na minha cabeça (2014) é muito parecido com estes 300 e poucos trabalhos de Renato, neste sentindo da produção. Só que eu uso argila, outro suporte bem diferente do desenho".
Peças de cinco séries de Christina foram escolhidas para a exposição. "Raul Córdula pegou trabalhos que eu ainda estava construindo e desdobramentos de outros mais antigos, como o do que eu apresentei em 2012 como resultado de uma residência no Hospital Ulysses Pernambucano, intitulado Meus eus", cita a artista.
Além dos três desenhos do rosto de Christina, outro exemplo de criações elaboradas a partir das obras feitas em uma experiência anterior é a série Terra carne relva, na qual ela pinta com tinta acrílica sobre o barro. Estas novas peças remetem à parte do que ela mostrou na exposição Contemporânea arte cerâmica (2014), coletiva montada no Centro Cultural Correios - mais especificamente à figura da mulher feita em argila que era parte da instalação Não tenho mais coração, tenho a natureza dentro de mim.
