REFLEXÃO

Ana Lira mostra trabalho sobre representação política no CCI

Exposição Não-Dito reúne obras feitas por ela e também pelos artistas que participaram do projeto Eleições: Crise de Representação

Do JC Online
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Publicado em 02/09/2015 às 7:33
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A crise de representação política atual instiga a fotógrafa Ana Lira que, na exposição Não-Dito, apresenta ao público obras desenvolvidas por ela e também o contexto no qual o trabalho foi realizado, exibindo criações de outros artistas. A mostra é inaugurada nesta quarta-feira (2/9), às 19h30, no Capibaribe Centro de Imagem - que, por sinal, fica na área entre as sedes do Governo do Estado e Prefeitura do Recife, Assembléia Legislativa, Câmara dos Deputados e Palácio da Justiça.

O descontentamento dos brasileiros com a política é facilmente notado, mas os caminhos pelos quais ele se manifesta são por vezes confusos. Em alguns casos, nota-se um desconhecimento das pessoas sobre o funcionamento do governo e a construção histórica dos processos. Há, portanto, muito o que se estudar e muito material para a reflexões artísticas.

Ana Lira iniciou o trabalho dela em 2012, durante a construção do filme coletivo Eleições: Crise de Representação. "Comecei a me questionar, onde está essa resposta negativa?", lembra a artista.

Os vestígios de campanhas políticas fotografados por ela oferecem ganchos para diversas leituras. O material de propaganda política aciona a memória e carrega interferências feitas por passantes ou pelo tempo (a artista não intervém nos cartazes). As marcas físicas, como rachaduras no muro, rasgos e riscos podem ser lidas pelo viés simbólico. Como lembranças das alianças desfeitas, da sobreposição de rostos na mesma situação, das mudanças ideológicas representadas pelas cores esmaecidas.

"A ideia não era focar em uma campanha única. Falo de uma crise do sistema, não de partidos específicos. O problema é estrutural, ligado a como a gente absorve a ideia de democracia. Não é uma questão só do poder executivo, mas do legislativo, do judiciário e do econômico também, por causa do financiamento das campanhas", afirma a fotógrafa.

As obras foram feitas no Brasil, mas representam uma situação vivida em outros países, como lembra o curador da mostra, Pablo Lafuente. Ele fez parte da equipe curatorial da 31ª Bienal de São Paulo (2014), para a qual Ana foi selecionada com a obra Voto!. "Chegamos aqui após os protestos de 2013 e decidimos pensar sobre como poderíamos ter uma conversa com a situação brasileira. A crise política não é só no Brasil, está em todo mundo. A relação da população com a classe política quebrou. Ana faz uma reflexão visual sobre esta questão", avalia o curador, que se mudou para o Brasil.

As fotos impressas em acrílico, que na capital paulista formavam grandes painéis, são expostas em outra configuração no CCI. As obras formam um pequeno labirinto no meio da sala e a transparência do material permite que as camadas de imagem se misturem entre elas, com os corpos dos visitantes e a cidade lá fora.

Ana continua a pesquisar sobre o tema, desenvolvendo o projeto com o nome de Arqueologia do Poder, e a exposição traz também imagens impressas em lona e cartazes (alguns deles serão colados pelo Recife). Santinhos sem o rosto dos candidatos se espalham pelo o chão. Para as paredes da galeria foram levadas demandas expressas nas ruas, através da aplicação de estênceis e cartazes sobre questões como transporte, educação e urbanismo (o material sendo colocado enquanto a exposição continuar).

"Eles são como pontos de fuga. Ana falou uma coisa linda hoje, que a luz sai deles para iluminar os cartazes. Os cartazes (fotografados) estão iluminados pelas demandas das rua. Você pode pensar sobre como eles (os políticos) não estão fazendo o trabalho que se espera que eles façam", interpreta Pablo.

Na sala posterior serão exibidos curtas e vinhetas produzidos para o projeto Eleições: Crise de Representação (o filme não chegou a ser finalizado). Além de Ana, participaram Marcelo Pedroso, João Lima, Felipe Peres, Grilowsky, Iezu Kaeru, Julio Cavani, Camilo Soares, Breno Silva, Caio Furtunato, Tarso Cabral, Mateus Egglevis, Lia Leticia, Lourival Cuquinha e Emerson Santos (in memoriam).

Visitas educativas, para grupos de no máximo 20 pessoas, podem ser agendadas por telefone ou pelo e-mail [email protected] (horários disponíveis: terça, quinta e sexta-feira, a partir das 10h, e sábados, a partir das 10h30).

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O texto completo está no Caderno C desta quarta-feira (2/9), no Jornal do Commercio.


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