Homenagem

Wellington Virgolino em exposição na Galeria Ranulpho

Artista plástico pintou a morenidade brasileira em seus quados

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Publicado em 14/09/2016 às 8:00
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Artista plástico pintou a morenidade brasileira em seus quados - FOTO: Reprodução
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Na arte de Wellington Virgolino (1929-1988), santos vestem camisas de times de futebol, pistolas disparam flores e figuras históricas são reimaginadas através de cores e símbolos tropicais. Pintor da morenidade, como o nomeou o sociólogo Gilberto Freyre, o artista pernambucano tem sua produção revisitada na exposição Virgolino - É Tempo de Homenagear, com vernissage quinta-feira (15), às 19h, na Galeria Ranulpho.

Dono de traço distinto e de uma poética que bebe das tradições nordestinas, Virgolino tomou gosto pela pintura ainda na infância, quando se lançou na experimentação artística como autodidata. Aos 19 anos, passa a colaborar como chargista e desenhista no Jornal Pequeno, do Recife, sendo convidado por Abelardo da Hora, dois anos depois, a se juntar à Sociedade de Arte Moderna do Recife, onde desenvolveu o que se considera sua obra madura.

Atento à singularidade de Virgolino, o marchand Carlos Ranulpho firmou parceria prolífica com o artista plástico, que além de frutos profissionais (Ranulpho representou-o com exclusividade de 1969 até 1988, ano da morte do pintor) resultou também em uma grande amizade.

“Além de um excelente artista, ele era também uma grande figura humana. Era leve, bem humorado. Teve uma infância pobre, mas bem vivida, com muitas brincadeiras de rua, experiências cotidianas. Essas características acabaram permeando toda a sua obra”, lembra.

Inspirado pelos muralistas mexicanos, retratou questões sociais, mas sua produção é primordialmente reconhecida pelas cores fortes, que remetem ao clima tropical, e uma geometria particular, com distorção de dimensões das figuras humanas e dos elementos presentes na tela.

“Virgolino tem um visual único. É daquele tipo de artista que você bate o olho na tela e reconhece a autoria. Então, é sempre importante ressaltar essa produção artística tão rica, principalmente para aproximar ele das novas gerações”, afirma Ranulpho, que diz sentir particular emoção em revisitar o catálogo de seu grande amigo.

O teor afetivo da exposição, inclusive, é evidenciado já na entrada. O quadro O Artista e Seu Marchand (1981) retrata Virgolino e Ranulpho e é o único da mostra que não está à venda. Além da obra, estão em exibição 11 telas que cobrem a produção do pernambucano entre os anos 1970 e 1980.

LÚDICO E ICONOCLASTA

A retrospectiva ressalta características marcantes do trabalho de Virgolino, entre elas o humor que beira a iconoclastia. Não era religioso, mas recorria à Bíblia constantemente como fonte de inspiração, em muitos momentos dessacralizando-a. É o caso de Meninos Brincando de Ceia Larga, no qual crianças reproduzem, de forma irônica, a Santa Ceia. O “Jesus” veste camisa do Santa, time do artista, enquanto o “Judas” a camisa do Náutico, em uma provocação a alguns amigos. Servidos à mesa, uísque e petiscos. 

As crianças, aliás, são recorrentes da obra do pernambucano, transitando entre a inocência e a maturidade. As flores e personagens históricos, representantes do povo e de ambientes lúdicos, como o circo, também habitam o imaginário de Virgolino.

A exposição é composta ainda pelos desenhos originais do álbum Wellington Virgolino e O Pavão Misterioso, inspirado na clássica história de cordel. Esses trabalhos foram reunidos em livro, com apenas 500 exemplares lançados à época, e hoje considerado item de colecionador. Fechando o mosaico artístico da obra do Cangaceiro das Flores, outra de suas alcunhas, estão expostos ainda oito quadros inacabados, que estavam em produção à época da morte do pintor.

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