Exposição

A Àfrica na coleção de Carlos Augusto Lira

Colecionador cria módulo de arte africana em sua expoisção na Galeria RioMar

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 03/12/2016 às 6:58
Ashley Melo / JC IMAGEM
Colecionador cria módulo de arte africana em sua expoisção na Galeria RioMar - FOTO: Ashley Melo / JC IMAGEM
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Em 1975, ao voltar de viagem à Àfrica, a arquiteta Janete Costa deu de presente a Carlos Augusto Lira uma pequena estátua em madeira. De rosto aluado, pernas finas em paralelo, uma espécie de guerreira tribal. Janete não desconfiava, mas abria ali uma porta - sem possibilidade de retorno - na vida daquele o jovem arquiteto, recém-integrado a seu escritório. “Foi a primeira peça de uma série que, aos poucos, mesmo sem muito critério erudito ou intelectual, virou uma coleção”, diz ele, que, desde ontem, renovou cerca de 30% da exposição A Lira de Carlos Augusto, na galeria RioMar, com parte de seu acervo africano.

“A arte africana, nem sempre reconhecida, é extraordinária. Picasso, por exemplo, só deslanchou depois que esteve na Àfrica e se impressionou com as máscaras tradicionais”, diz ele, que, no módulo batizado de Lira Amar África, procura evidenciar diálogos estéticos entre a arte africana e a estética ocidental mais consagrada. Ao lado de esculturas tradicionais africanas de bronze, por exemplo, dispôs porcelanas de arte noveau. “Temos vários clássicos do design europeu, no mobiliário, por exemplo, que são réplicas da arte africana”, comenta.

Colecionador compulsivo, com um acervo de mais de dez mil peças dispostas na própria residência (convertida, forçosamente, em galeria particular) e um galpão para reserva técnica, Carlos Augusto Lira tem, provavelmente, a maior coleção de arte de popular do País. “É uma coleção extraordinária, na qual podemos ver a trajetória de um mesmo artista em várias fases”, comenta a antropóloga Ciema Mello e Silva, curadora da exposição. Aberta em agosto, a galeria RioMar, localizada no shopping de mesmo nome, foi inaugurada com um extrato da coleção de Carlos Augusto em que ele procura evidenciar diálogos e coincidências estéticas e poéticas entre peças da arte popular brasileira e o cânone ocidental.

No novo módulo africano da exposição, o público pode conferir quase uma centena de objetos variados. De máscaras a tecidos e roupas cerimoniais ou adornos. “A maior parte dessas peças, eu comprei em bons antiquários de Paris ou de São Paulo”, comenta o colecionador. Entre as obras, chama a atenção uma pequena cama, talhada em madeira, inteiriça, para deitar filhos de chefes de tribos. “No resto do Ocidente, costuma haver uma diferenciação entre estético e utilitário. O que nos encanta muito na África é o fato de que não há essa diferença, a estética faz parte da utilidade da vida”, ele comenta. Num dos módulos, pequenas esculturas em madeira trazem figuras africanas usando equipamentos como máquinas fotográficas ou ferramentas tecnológicas. “Essas figuras são chamadas de cólons, retratam as pessoas que queriam se ocidentalizar”, ensina o arquiteto colecionador.

 

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