Pintura

Em exposição, Fernando Duarte apresenta parte de sua vasta produção

Cerca de 90 obras compõem a mostra, em exposição na Galeria Via Della Fontana

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 13/07/2017 às 10:00
Leo Motta/JC Imagem
Cerca de 90 obras compõem a mostra, em exposição na Galeria Via Della Fontana - FOTO: Leo Motta/JC Imagem
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Como um operário da arte, Fernando Duarte debruça-se, diariamente, por seis horas sobre suas pinturas com uma atenção que, brinca, pode beirar o obsessivo. Seus cadernos de esboços reúnem frases, desenhos e ideias que acumula ao longo do dia provenientes das mais diferentes fontes, como livros, filmes e as relações interpessoais (só este ano, já preencheu 17 deles). Seu olhar parece buscar o equilíbrio entre o autoconhecimento, resultado de um mergulho metódico na meditação, e a percepção do caráter transitório das coisas, em constante transformação, do mundo que o cerca. Parte da abundante produção do artista plástico estará em exposição a partir desta quinta (13), às 19h, na Galeria Via Della Fontana, em Boa Viagem.

Após período dedicado quase que exclusivamente aos estudos e produção de gravuras, aquarelas e sumiês – técnica chinesa e japonesa na qual a obra é composta com um único traço de pincel – Fernando recentemente voltou a se dedicar à pintura. Segundo ele, lançar-se nesses diferentes processos o fez perceber as particularidades de cada um e entender melhor o tempo da pintura.

“O sumiê tem como característica a rapidez, a fluidez, de uma maneira em que a intencionalidade esteja um pouco afastada. A partir de alguns desenhos, resolvi voltar a pintar, o que enfatizou a relação com a cor, a tentativa de entender que colocar um vermelho em determinado lugar modifica o quadro inteiro, por exemplo. Isso me fascina”, explica.

Da farta produção, Fernando selecionou 90 trabalhos para a exposição. Na série Drones, ele reflete sobre a relação da humanidade com as máquinas a partir das reflexões geradas pelos equipamentos não tripulados que dão nome aos trabalhos, cujos usos vão da gravação de filmes ao uso militar.

Já em Ver o Grande Quadro – criada a partir de citação de Espinoza, que diz que nossa mente amadurece a partir das experiências e, com o tempo, possibilita uma percepção ampla da vida – o artista se questiona sobre os limites da visão (real e figuradamente) na nossa relação com o entorno.

REFLEXÕES

Nos quadros da série SOL, o ex-secretário de Cultura aplica a técnica do sumiê, com gestos velozes e definitivos, para compor retratos a partir de uma combinação diversificada de cores e elementos. Em A Minha Gente, nomeada a partir da canção Apesar de Você, o artista plástico percebeu que todas as figuras estavam com as cabeças para baixo, hesitantes, e percebeu uma ligação com a atualidade.

“Estou preocupado com o crescimento de um planta no terreno baldio que fica no caminho do ateliê, ao mesmo tempo em que me preocupo sobre o descobrimento de um exoplaneta e com a tecnologia no meio disso tudo. A tecnologia é mais do que um liquidificador para fazer vitamina, é um fetiche em si mesmo. Por que, com todo o aparato, ainda não se resolveu a miséria, por exemplo? São reflexões que não são de um filósofo, no sentido de serem sistemáticas, mas de um pintor, como se eu quisesse ‘ver o grande quadro’. Estou neste caminho e estou compartilhando”, reflete.

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