Inventado no século 19, na Inglaterra, o caleidoscópio é um objeto cuja simplicidade e poética continuam a fascinar, 200 anos após sua criação. A partir das imagens produzidas pela disposição de três espelhos em diferentes ângulos, expostos à luz, é possível observar figuras em diferentes padrões geométricos e cores (graças a pedaços de vidro coloridos). Tomando esse conceito como mote, a curadora Joana D’Arc Lima reuniu os artistas Daniel Santiago, Gil Vicente e Marcelo Silveira em uma exposição que leva o nome do objeto no Sesc Petrolina a partir de quinta-feira (3).
Interessada em investigar os pontos de diálogo entre artistas de diferentes gerações, a curadora optou pelo recorte em três épocas: os anos 1960, representados por Daniel Santiago; os 1970, na figura de Gil Vicente, e os 1980, com Marcelo Silveira. A junção, explica Joana D’arc, se deu para além da questão etária e temporal e sim no que representaria o germe da produção desses criadores.
“A ideia do caleidoscópio estava desde o início do projeto. O objetivo era aproximar esses três vértices e perceber os rebatimentos, entrecruzamentos que surgiriam a partir disso. Os trabalhos deles são executados de maneiras únicas, mas que se entrecruzam, seja pela questão do ambiente artístico em que estão inseridos, no habitat recifense, seja pela afetividade que guardam entre si”, explica a curadora.
Com esse conceito em mente, os artistas passaram a pesquisar essas reverberações no campo das artes visuais, que estão em constante processo de espelhamento e transformação. A ideia funciona quase como um estudo da artesania da imagem e das possibilidades de manipulação delas. O espaço expositivo, portanto, convida o espectador a um estado de imersão, tornando-se, ela mesma, um caleidoscópio.
Para o projeto, Daniel Santiago produziu sua própria caixa óptica, uma escultura de madeira com espelhos, com 120 x 50 cm de dimensão. O objeto é interativo e o artista também exibirá imagens produzidas pelo fotógrafo Francisco Baccaro, além de vídeo mostrando o processo de Santiago ao colocar uma câmera no caleidoscópio e as figuras nela produzidas.
Já Gil Vicente apresenta a série Espelho Meu, desenhos recentes, produzidos a partir de experimentos com arames de champanhe, recolhidos após o Réveillon, banhados em nanquim, que após o processo criam 16 possibilidades de composições/imagens nos formatos 70 x 200 ou 100 x 140 cm. Outro trabalho do artista plástico é a série Cartemas, que traz a ideia do duplo a partir de um diálogo inspirado na obra de Aloísio Magalhães.
Em consonância com os trabalhos de seus conterrâneos, Marcelo Silveira apresenta Gira-Gira, porta giratória, que a partir da manipulação manual, cria imagens e sombras que se modificam, além de cobrir uma das paredes do espaço com papel laminado, com o objetivo de refletir a luz. Outro trabalho de Silveira é o vídeo São, cuja narrativa revela uma série de imagens fruto do gesto do corte e recorte, sobreposições e colagens.
Após a temporada em Petrolina, a exposição segue para Garanhuns, em outubro, onde ocupará o Sesc local. No início de 2018, chega ao Recife, na Galeria Amparo 60, possivelmente com novas configurações.