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'Narrativas do Invisível' leva trabalhos potentes ao Itaú Cultural

Exposição é composta por 27 dos 117 projetos selecionados pelo projeto Rumos

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 31/08/2017 às 16:29
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Exposição é composta por 27 dos 117 projetos selecionados pelo projeto Rumos - FOTO: Divulgação
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A história da humanidade, como conhecemos, é deliberadamente excludente. Sem a polifonia necessária, capaz de promove o encontro entre diferentes vivências, a historiografia ­– e aqui inclui-se, claro, a da arte – assume um caráter eurocêntrico, misógino, racista, homofóbico e classicista. Por isso a preocupação crescente de artistas contemporâneos em contestar esse modelo, buscando amplificar as vozes dos silenciados, construindo outros relatos possíveis. Ao observar essa inquietação latente em grande parte dos trabalhos selecionados no projeto Rumos 2015-2016, o Itaú Cultural concebeu a exposição Narrativas do Invisível, que abre as portas nesta quinta-feira (31), na sede do instituto, em São Paulo.

Composta por 27 dos 117 projetos selecionados pelo programa, a mostra atravessa diferentes linguagens, tendo como eixo obras que discutem a sociedade brasileira a partir das ideias de invisibilidade, deslocamento de territórios e questões silenciadas pelo status quo, como os anseios e subjetivações das minorias. Alguns trabalhos tocam nesse conceito de forma mais abstrata, enquanto outros levam a discussão para a linha de frente.

Deste segundo grupo, é emblemático A História Da_rte, de Bruno Moreschi. A partir de uma investigação que tomou como base 11 livros usados como referências no estudo de História da Arte, ele diagnostica as ausências de grupos sociais à margem dos grupos de poder. A partir dessa pesquisa, propôs também um outro mapa mundi, no qual estão destacados os ausentes, principalmente aqueles com nenhum artista citado nas obras estudadas. O projeto também dará origem a um site.

A memória, questões de identidade e territorialidade também permeiam trabalhos sensíveis como Pontes Sobre Abismos, de Aline Motta. A artista utiliza as artes visuais para remontar a história de sua família, discutindo no processo questões necessárias, como a racial. Textos, vídeo e fotografia compõem um forte quadro da sociedade brasileira, partindo da bagagem emocional do clã da criadora para atravessar a história de muitos brasileiros.

REVELANDO O ESQUECIDO

Em São Francisco Submerso – o Lago de Itaparica, o fotógrafo pernambucano Luiz Neto revela imagens de cidades que desapareceram com a construção de hidrelétricas na região do rio São Francisco, em Pernambuco e na Bahia. Sistema Circulatório, de Anaísa Franco, mapeia o tráfego aéreo do planeta, por meio de software desenvolvido especialmente para o projeto. As trajetórias das aeronaves são projetadas em uma esfera de aproximadamente dois metros de diâmetro.

A invisibilidade social marca os trabalhos Retrato de Cola: Violência Grátis, de Murilo Jacintho, e Retrato Falado, de Tatiana Altberg. No primeiro, o artista desenvolveu uma série de fotocolagens em grande escala, nas quais pessoas são retratadas sobre um fundo composto de manchetes jornalísticas que noticiam atos violentos. Na abertura da mostra, o público será convidado a fazer interferências na obra, violentando-a.

No trabalho de Altberg, internos em unidades do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), do Rio de Janeiro, retratam imagens de seus universos a partir de elementos que identificam como representações de si. Os jovens tiveram oficinas de fotografia com câmeras artesanais, confeccionadas pelos próprios. A exposição Narrativas do Invisível segue até 5 de novembro e, a partir de outubro, será composta ainda por apresentações de artes cênicas.

 

* O jornalista viajou a convite do Itaú Cultural

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