Inovador

Legado de Ypiranga Filho é resgatado em livro e exposição

Artista de 82 anos foi um dos pioneiros da arte contemporânea em Pernambuco

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 08/08/2018 às 20:09
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Artista de 82 anos foi um dos pioneiros da arte contemporânea em Pernambuco - FOTO: Divulgação
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Ypiranga Filho ocupa um lugar fundamental na arte de Pernambuco, ainda que esse papel não tenha a repercussão que merece, inclusive por conta de seu caráter experimental. Um dos expoentes da ruptura da arte moderna para o que se convencionou chamar arte contemporânea, aos 82 anos ele continua a compartilhar seu conhecimento, ajudando a formar novas gerações. Agora, seu legado ganha um merecido reconhecimento com um livro que leva seu nome pela Cepe Editora, com organização de sua companheira, Lêda Régis. O projeto reúne as principais obras do pernambucano, além de textos que elucidam a força de sua poética, e é lançado quinta-feira (9), às 19h, no Museu do Estado, onde também será montada uma exposição retrospectiva com mais de 100 trabalhos, com curadoria de Joana D’Arc Lima e Raul Córdula.

A trajetória artística de Ypiranga foi traçada a partir de uma tendência pulsante à experimentação, não seguindo modelos pré-determinados. Ingressou na Escola de Belas Artes em 1963, no Curso Regular de Pintura, mas enveredou nos estudos de escultura, onde se formou em 1969 com um trabalho ousado: o conjunto de esculturas Evolução–Revoluções, que formava composições a partir do uso de dezenas de cabos de vassoura com a possibilidade de alteração pelos visitantes.

“Ele poderia ter sido reprovado, mas, um grupo de professores que já alimentava esses fazeres com materiais não canônicos o aprovou. Então, não eram justas as acusações de alguns de seus contemporâneos de que Ypiranga seria um formalista simplesmente por estar na academia. Ele teve uma formação rigorosa, mas se apropriou desse saber para experimentar com materiais extremamente inusitados. Ao se desenvolver mais na escultura, também foi na contramão da tradição da arte pernambucana, associada à pintura. É um dos protagonistas de uma dinâmica do campo artístico, na década de 1960, que de certa forma inaugura o que chamamos de arte contemporânea brasileira”, enfatiza Joana D’Arc Lima.

CARACTERÍSTICAS DE INOVAÇÃO

A utilização desses materiais não convencionais para a escultura, como o ferro, é uma das características marcantes do trabalho do pernambucano, que também dialogou com a fotografia, o filme, a arte xérox e a arte postal. Sua ressignificação de materiais da indústria revelava também uma luta política, manifestada ainda em suas participações em ações como o Movimento Arte da Ribeira, durante a ditadura militar, e a Brigada Portinari. “Sua arte é voltada para o povo, tem um caráter ligado aos espaços abertos e à militância política”, aponta Joana D’Arc.

Quanto à exposição, ela dialogará com o livro com um recorte cronológico dos anos 1960 à atualidade. Além de trabalhos em escultura, desenho, pinturas e gravuras, também estarão presentes obras que Joana classifica como “transbordamentos” por não se limitarem a uma classificação específica. “Em tupi, ypiranga significa rio vermelho e vejo o caminho da exposição como essa força das águas, que se expande, não se controla, características presentes na poética dele”, reforça.

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