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'Autopoese': Alexandre DaCosta expõe pela primeira vez no Recife

Artista carioca, integrante da Geração de 80, apresenta obras no Mamam

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 18/09/2018 às 21:04
Mauricio Wanderley/Divulgação
Artista carioca, integrante da Geração de 80, apresenta obras no Mamam - FOTO: Mauricio Wanderley/Divulgação
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Artista visual, poeta, músico, ator, cineasta e compositor. São várias as facetas artísticas de Alexandre DaCosta e, no seu fazer, essas expressões não caminham em paralelo, estabelecendo diálogo constante entre si. Integrante da Geração de 80, o carioca estabeleceu um projeto artístico que, ao longo das últimas décadas, esteve à margem do mercado de arte talvez, justamente, por não tentar se delimitar temática e esteticamente. Parte de sua vasta produção recente pode ser vista na exposição Autopoese, que ele apresenta quinta-feira (20), às 19h, no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam).

Esta será a primeira vez que Alexandre DaCosta expõe no Recife. Para a curadora da mostra, Joana D’Arc Lima, a ausência da obra do carioca em Pernambuco e em outros estados por tanto tempo pode ser atribuída à dificuldade do mercado de arte de absorver sua poética, que parece ocupar um espaço muito peculiar.

“O trabalho dele é pouco consumido pelo mercado de arte, tanto por uma escolha desse mercado quanto pela poética que ele produz, que não se rende ao gosto estabelecido em torno da pintura. Na arte contemporânea, estar fora do mercado é às vezes sair desse circuito (de circulação). Ele é oriundo da Geração de 80, que ficou conhecida por fazer um retorno à pintura, que lidaria com a emoção, após o que era considerada uma arte cerebral e hermética dos anos 1970. Embora ele seja filho de dois grandes pintores (Milton Dacosta e Maria Leontina) e ter trabalhado e ainda trabalhar com a pintura, ele já trabalhava com ações, misturando música, teatro, artes visuais, performance. Alexandre não estava nem no lugar do pintor, nem do artista conceitual.

Ou seja, ele estava numa certa contramão de um discurso estabelecido pela arte”, aponta a curadora.
Na exposição que ele apresenta no Recife e que anteriormente esteve no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, Alexandre reúne trabalhos que fazem parte de seus livros autopoese, lançado em forma de e-book pela editora Lacre em 2018, [TECNOPOÉTICA](Editora 7 Letras em 2011) e do Livro-CD Adjetos – com dezoito canções para esculturas (Editora 7 Letras 2011). Ao todo, são 60 obras tridimensionais e 12 vídeos poéticos-experimentais que ocupam todos os andares do Mamam.

“Estou super muito feliz em trazer essa exposição, nunca tinha vindo, nem em uma coletiva. Intitulei a exposição de Autopoese porque na biologia há esse termo que fala da capacidade do organismo de reger-se, de fazer a si mesmo. Gostei dessa imagem. A exposição chega ao Recife com algumas diferenças em relação à última vez em que foi apresentada porque ela está em constante transformação, vou sempre adicionando novos trabalhos”, explica o artista.

OCUPAÇÃO

O uso de objetos do cotidiano como material artístico (ready-made, que se apropria dos artigos produzidos em massa) é muito presente em seu trabalho, assim como a poesia visual. Entre os trabalhos expostos no museu estão Rãdiografia, uma caixa de luz de médico com o raio-x de uma rã com um poema; Furor, alvo de tiro de 70 centímetros de diâmetro cujas letras formam o título da obra; Atrorretrato, um porta-retrato digital com 16 fotos 3 X 4 do artista de várias épocas, entre outros.

“Há alguns anos, também comecei a trabalhar com placas, mas subvertendo algumas mensagens, em geral com humor, que é um elemento bem presente no meu trabalho. É uma poética do aviso, mas também de enganação. Por exemplo, em uma com o símbolo do wi-fi, coloco o texto wi-fly, que dialoga com uma brincadeira que faço, que é colocar uma mosca de plástico em uma obra, de maneira bem sorrateira, que só quem parar para prestar atenção vai encontrar”, afirma Alexandre.

No setor educativo do museu, um tablet estará disponível para o público acionar o e-book Autopoese e o álbum Antimatéria com 13 canções do artista lançado no ano passado. Fragmentos da Rádio Varejo, arte sonora que DaCosta está gravando desde 2016, serão ouvidos junto com os vídeos da exposição.

Na noite de abertura, será apresenta a série Participatura – Metodologia do Espontâneo, com composições musicais de Alexandre, cujas partituras-vídeo são projetadas para os músicos interpretarem a escritura visual-musical ao vivo.

Sempre produzindo, o artista em breve começará a montagem do documentário que dirigiu sobre Barão de Itararé (1885-1971), jornalista pioneiro no humorismo político no Brasil. Ele também se prepara para atuar no filme Bobo da Corte, de Luiz Rosemberg Filho, com quem já trabalhou em Os Príncipes, apresentado este ano no Cine PE.

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