Fotografia

O caos fecundo da natureza de Helder Ferrer

Fotógrafo veterano inaugura exposição Caos Fertilidade e Mistérios na Galeria Arte Plural

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 15/10/2018 às 18:37
Helder Ferrer / Divulgação
Fotógrafo veterano inaugura exposição Caos – Fertilidade e Mistérios na Galeria Arte Plural - FOTO: Helder Ferrer / Divulgação
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Há dois anos, Hélder Ferrer, dono de uma trajetória referencial de mais de três décadas dedicadas à fotografia, se mudou para o bairro de Aldeia, naquele trecho de Camaragibe onde muita gente tem buscado refúgio do caos urbano permanente. Ao perceber a dimensão da natureza ao redor da nova residência, se deparou, sim, com mais caos - um caos fecundo. “A natureza é absolutamente caótica”, diz ele, sobre o sentimento que o instigou a entrar de equipamento em punho na mata vizinha. Sem ter certeza plena do que iria encontrar, a resposta foi ficando clara aos longo desses últimos dois anos em que ele constituiu um impressionante acervo de mais de duas mil imagens.

A incursão imagética de Hélder Ferrer sobre a densidade da Mata Atlântica de Aldeia pode ser conferida na série de 22 fotografias em exibição, a partir de hoje, na série CAOS – Fertilidade e Mistérios, na Galeria Arte Plural, no Recife Antigo. Além da atmosfera surreal, das composições de um rigor estético insuspeito, insinuante, as imagens de Férrer intrigam pelo silêncio gritante que parecem sugerir. Como se propusessem uma ruptura brusca na razão inútil para a reorganização da lógica.

Não por acaso, ao fotografar, o artista se viu, sem querer, ouvindo inconscientemente a antiga premissa do filósofo Friedrich Nietzsche sobre a fertilidade do caos. “Na primeira entrada na mata me deu um braco, o grande caos. Eu não ia fotografar árvores, tinha que encontrar um caminho, quando veio a fertilidade do caos, esse movimento eterno de vida e morte. Cada árvore que cai, cada folha que cai vira adubo para as novas gerações”.

CONVULSÃO

Suas imagens parece capturar a dialética entre barulho e quietude, sombras e luz, morte vida e renascimento. Numa ciclotimia mítica, como sugere, no texto de apresentação do catálogo, o poeta e ensaísta Weydson Barros Leal:

“Na convulsão dos pesadelos - assim como na turva travessia das noites da história - a inquietude procura a luz, a terra firme do amanhecer, a decifração de uma forma que os sentidos traduzam como paz e repouso. É assim em todo enredo que abre as cortinas à tormenta mas que aos poucos nos conduz ao sereno aconchego das cenas de calma, aos desfechos do fim. Na dramaturgia ninguém superou Shakespeare nesse trânsito do estrondo para o alento, da espada para o riso, do conflito para o amor. Na obra do bardo de Stratford-upon-Avon, a peça A Tempestade - provavelmente sua última criação - resume a mestria dramatúrgica ao trazer o espectador do caos de um mar em fúria para uma ilha de sonho, magia e elevação. É desse retorno de um mundo caótico (de agora) que o fotógrafo Helder Ferrer parece ancorar as imagens de uma natureza tropical, úmida, noturna, solar - cenários da Mata Atlântica.Uma atmosfera de ilha, de floresta shakespeariana - também Sonho de uma noite de verão - que nos remete aos mistérios da convivência com cada uma dessas imagens”.

CAOS – Fertilidade e Mistérios. Abertura (hoje) para convidados, às 19h. Arte Plural Galeria, Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife. Até novembro.

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