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Roberta Guimarães abre exposição 'Agô' no Museu do Estado

40 fotografias e alguns vídeos revelam olhares sobre o Xangô Pernambucano

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 23/04/2019 às 13:19
Filipe Jordão/JC Imagem
40 fotografias e alguns vídeos revelam olhares sobre o Xangô Pernambucano - FOTO: Filipe Jordão/JC Imagem
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Título da exposição da fotógrafa Roberta Guimarães, Agô significa “com licença” no idioma iorubá. A expressão se mostrou apropriada para representar o conjunto de imagens registradas em 14 terreiros de Pernambuco por várias razões, principalmente pelo o fato da artista não ser iniciada nas religiões de matriz africana. Com sua lente, ela lança um olhar marcado pelo respeito e atento às limitações que a ausência do lugar de fala impõe. Ela compartilha esse resultado de anos de pesquisa a partir de terça-feira (23), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe).

O interesse de Roberta pelo Xangô de Pernambuco começou a se fortalecer em 2009, quando começou a acompanhar as Caminhadas de Terreiro, que reúne seguidores de religiões afro-brasileiras em prol do combate ao preconceito e à intolerância. À medida em que se aproximava mais dos rituais e dos praticantes, começou a estabelecer uma rede afetiva e de conhecimento, passando a ser convidada para acompanhar rituais como o Ebó das Águas, em que o adepto passa por uma preparação, se banha em um rio e retorna ao terreiro para finalização da cerimônia.

Esses registros foram publicados inicialmente no livro O Sagrado, a Pessoa e o Orixá, lançado em 2013, e também deram origem à exposição, que já foi apresentada em João Pessoa. A mostra reúne 40 fotografias, além de vídeos que aprofundam a pesquisa com depoimentos de filhos e pais de santos.

“A cultura africana tem grande influência na formação da cultura brasileira. Sua valorização e preservação é bem importante no momento em que estamos vivendo, com muito preconceito e intolerância. Quando estava fotografando nos terreiros, eu vi filhos de santo que disseram que trocavam de roupa apenas nos terreiros para não serem agredidos na rua. Também estava dentro do terreiro e ouvi pessoas jogando pedra quando estava sendo tocado o atabaque. Minha intenção é poder reverenciar e valorizar essas influências, tocando inclusive quem tem preconceito. Por não ser iniciada, minha visão é estética, mas cercada de muito respeito”, explica a fotógrafa.

Para o curador da exposição, Raul Lody, as fotografias de Roberta Guimarães recuperam esforços empreendidos por artistas como Pierre Verger de fomentar uma etnografia visual da cultura afro-brasileira.

“Esta exposição ilumina um pouco o olhar, a sensibilidade, promove a reflexão. É um ato formador, ideológico, conceitual. É uma exposição contemporânea que quebra um hiato grande de materiais dos anos 1930/1940, mas não se fazia um trabalho mais sistemático recente. Então, existe uma continuidade, uma resistência e tomada de consciência do patrimônio imaterial”, reflete Raul.

Em suas imagens, a artista desdobra ainda questões que passam por raça, gênero e sexualidade, em consonância com a alteridade que permeia essas religiões. Em uma sequência de fotos, por exemplo, ela registra o processo de preparação de um homem e uma mulher que utilizam indumentárias do gênero oposto, porém condizentes com seus orixás, para cerimônias religiosas.

Outro aspecto que ela destaca é a importância dos praticantes dessas religiões historicamente perseguidas se verem representados em espaços de poder como os museus.

ACESSIBILIDADE

Durante a mostra haverá visitas guiadas para pessoas com deficiência visual e auditiva. A exposição contará ainda com audiodescrição para as fotos expostas, com libras, e legendas LSE nos vídeos.

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