Saberes

Bordados de Passira inspiram exposição de Laís Domingues

Mostra ocupa o Sesc Casa Amarela a partir de quinta-feira (6)

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 05/06/2019 às 18:27
Laís Domingues/Divulgação
Mostra ocupa o Sesc Casa Amarela a partir de quinta-feira (6) - FOTO: Laís Domingues/Divulgação
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Durante cinco meses, a artista visual Laís Domingues deixou sua casa no Recife para fazer de Passira, no Agreste de Pernambuco, sua morada. Lá, participou de um processo de imersão e troca de saberes com as bordadeiras do município, conhecidas internacionalmente por suas produções manuais, em especial artigos de mesa e banho. Uma das culminâncias deste processo é a exposição Para Si: Um Processo de Ser, que é aberta nesta quinta-feira (6), às 19h, no Sesc Casa Amarela.

Tradição passada por gerações, o bordado, em Passira, é parte de uma cultura também de resistência. A admiração pelo trabalho promovido pela Associação das Mulheres Artesãs de Passira motivou Laís a desenvolver o projeto de residência. No processo, convidou a estilista paulista Thanina Godinho para participar da imersão. A força criativa desse coletivo de mulheres de diferentes gerações, origens e saberes, gerou trocas potentes para todas as envolvidas.

“Alugamos uma casa em Passira onde pretendíamos passar quatro meses, mas acabamos ficando cinco porque foi um processo muito bonito e intenso. Foi, de fato, uma troca: oferecemos aulas de modelagem e remodelagem, que era uma demanda delas, de tingimento natural dos tecidos (com matérias-primas locais, como cajueiro roxo, açafrão-da-terra, café e eucalipto, e elas nos passaram muitos ensinamentos. Aprendi, por exemplo, os pontos de bordado tradicional, com Luzinete Maria da Silva, característico das produções dela, e pude aplicar isso no meu trabalho”, pontua Laís.

O interesse da artista visual pernambucana por bordado ganhou força há quatro anos, quando começou a fazer intervenções em suas fotos. Com os aprendizados adquiridos em Passira, ela passou a explorar outra superfície para impressão de suas imagens, o tecido (anteriormente, seus bordados eram em fotografias em papel). Essas imagens, que estarão em exibição na mostra, foram impressas artesanalmente por Laís. A artista utilizou os processos Cianotipia e Van Dyke, utilizando a luz solar UV.

FEMININO

A exposição, inclusive, é a culminância do projeto Bordando o Feminino, que tem incentivo do Funcultura e já resultou no lançamento da coleção-cápsula de moda Filhas do Sol, no final de 2018. Laís, que é fotógrafa, também aproveitou sua estadia para produzir várias imagens das bordadeiras, estimulando também um processo de reforço da identidade delas.

“Em nossas atividades, buscamos estimular o potencial criativo delas e também exercitar o reconhecimento de território. Saíamos para caminhar juntas, para olhar a cidade, e, assim, redescobrir a beleza e as particularidades de Passira. Às vezes ficamos tão anestesiados pela correria do cotidiano que esquecemos como o lugar de onde somos guarda tantas coisas incríveis. Fiz muitas fotos e vídeos com elas usando as roupas que produziam, o que foi muito potente para mim e para elas”, enfatiza a artista.

Além de quinze fotografias bordadas produzidas por Laís Domingues, com inspirações em elementos da cultura de Passira, a exposição contará ainda com peças da coleção Filhas do Sol, além de uma obra interativa. Nela, o público é convidado a cocriar a partir de conhecimentos básicos de pontos de bordado.

Em consonância com a ampliação da acessibilidade, as obras de exposição terão audiodescrição e o espaço está totalmente adaptado para o acesso de cadeirantes.

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