A Rua da Aurora é um dos símbolos mais representativos das contradições que marcam o Recife, com suas belezas naturais e arquitetônicas, e, ao mesmo tempo, o abandono do espaço público e das pessoas que, diante das dificuldades sociais que assolam o Brasil, vivem em situação de rua. A partir da percepção das potências do espaço e, principalmente, da vontade de estimular o protagonismo e a dignidade dos socialmente invisibilizados através da arte, o coletivo Aurora de Estrelas, formados por artistas e profissionais de diversas áreas, iniciou segunda-feira um trabalho na vizinhança.
Na marquise e pilastras do espaço localizado próximo à pista de skate da Aurora, rolos de pintura e pincéis eram manuseados por pessoas de diferentes gêneros e idades que atualmente utilizam o espaço como moradia. Os artistas visuais Manoel Quitério e Sarah Oliveira, que integram o coletivo, acompanhavam os traços dos participantes, incentivando-os a expressarem suas subjetividades.
“Há uns cinco anos venho desenvolvendo um trabalho voltado para as questões sociais a partir de inquietações minhas sobre pontos que me incomodavam, como a falta de diálogo com as pessoas em situações vulneráveis e a própria noção sobre de quem é a rua. Diante da especulação imobiliária descontrolada do Recife, temos que nos questionar de quem é verdadeiramente o espaço”, reflete Manoel.
PERTENCIMENTO
Sua experiência com arte urbana que agrega a participação dos moradores vem se aprofundando nos últimos anos, com passagens por áreas como os morros do Recife, o Sertão de Pernambuco e a Dinamarca, onde desenvolveu um trabalho com refugiados.
“Trabalho muito a questão dos símbolos do inconsciente. O que sobra quando tiram tudo da gente? Então, é isso que tentamos trabalhar também com a galera para que expressem o que sentem. Tem sido uma experiência de muito aprendizado para mim, de ressignificação do olhar em relação ao outro”, reforça.
Para o projeto Aurora de Estrelas, que é independente, o coletivo contou com o apoio da Prefeitura do Recife, que doou tintas e alimentação para os participantes. A execução das pinturas seguem até sexta-feira e, no domingo, como culminância das atividades, pretende-se fazer uma festa que integre os participantes da ação e a população do entorno e de outras partes da cidade.