Fotografia expandida

Rodrigo Braga tem sua obra pulsante investigada em livro

Publicação é lançada dia 1º de novembro no Museu do Estado

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 01/11/2019 às 11:36
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Publicação é lançada dia 1º de novembro no Museu do Estado - FOTO: Divulgação
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O curador Eder Chiodetto cunhou o termo Geração 00 para tentar identificar parte da produção que floresceu a partir dos anos 2000, dentro do que classificou como “nova fotografia brasileira”, caracterizada, entre outros aspectos, pelo cruzamento de linguagens e a diluição da fronteira entre documental e subjetivo. Rodrigo Braga, manauara que desenvolveu uma parte robusta de sua produção em Pernambuco, é um dos artistas a emergir nesse período, desenvolvendo uma pesquisa instigante em diálogo com a performance, o audiovisual e campos de conhecimentos múltiplos como a filosofia e a biologia. Essa obra pulsante desenvolvida por Braga ao longo de duas décadas é investigada, agora, no primeiro volume da coleção Geração de um Pernambuco Contemporâneo, que é lançado dia 1º de novembro, às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe).

A escolha por Rodrigo para inaugurar a coleção foi, segundo Rebeka Monita, curadora do projeto, um caminho natural. A obra do artista foi o tema de sua dissertação de mestrado e encarada como um objeto potente para discutir questões da fotografia contemporânea. Surgiu, então, a vontade de sistematizar não só a produção de Braga, como também de seus contemporâneos.

No caso desta publicação inaugural, além de um texto assinado pela curadora, há também ensaios dos pesquisadores e artistas visuais Maria do Carmo Nino e Marcelo Coutinho. Não é uma retrospectiva, apesar de reunir trabalhos desde 2001 até 2018. O livro, que tem incentivo do Funcultura, fornece, na verdade, um olhar aprofundado sobre a produção múltipla e instigante do artista visual, uma possibilidade de adentrar parte de seu universo poético.

“Durante a pesquisa, sabíamos que havia um universo da Geração 00 em Pernambuco que é muito potente, com projeção nacional e internacional. Essa potência está não só nos artistas, mas também na crítica de arte. Percebemos que há uma dificuldade na sistematização dos textos críticos sobre os diversos artistas e, por isso, surgiu a ideia de fazer uma coleção que poderia materializar o diálogo entre as produções artísticas e críticas”, explica Rebeka. “O trabalho de Rodrigo me atravessa por não separar sujeito de objeto. É afetivo. Me interessa muito como sua obra preza pela experiência, que nos arrebata e faz pensar sobre a existência.”

A possibilidade de observar parte de sua produção em diálogo com ensaios críticos possibilitou, segundo Rodrigo Braga, aguçar ainda mais o olhar sobre questões que lhe instigam há duas décadas. Sua obra, que além da fotografia se debruça sobre outras linguagens, como o audiovisual, a pintura e a escultura, tensiona campos de conhecimento variados. Seu modo de produção, explica o artista, é solitário e imersivo.

“Não estou nem na metade da minha carreira, então não faria muito sentido pensar em termos de retrospectiva. Enquanto artista, percebo que o fio da meada da minha produção se estabelece no caráter da relação homem e seu meio, em campo, na natureza ou no espaço rural. Ou ainda sobre de que forma se estabelece a relação do com a natureza dentro da cidade. Essas questões não são novas na arte contemporânea, mas, no meu caso, o que percebo é que desde então a investigação se dá entre essa relação do homem com o meio a partir de aspectos ruidosos, conflituosos. Não sou um artista que busca retratar, então a natureza nunca aparece de forma romântica na minha obra. Ela é quase projetada”, explica Rodrigo.

INFLUÊNCIA DE PERNAMBUCO

Ele aponta ainda que, apesar de estar vivendo há um ano em Paris e por isso estar distante geograficamente do Recife, sua formação artística e humanística se deu, majoritariamente, em Pernambuco.

“Minhas referências estéticas são de Pernambuco, desde as coisas que a gente aprende na escola, na literatura e nas artes, até minha vivência de cidade, no Recife, e de como essas experiências moldam minha relação com o corpo, com a violência. A natureza da capital e do interior, como o Sertão do Pajeú, está muito presente no meu imaginário”, enfatiza.

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