Diálogo com a arquitetura

Exposição 'Brise' leva estamparia ao Museu do Estado

Projeto foi concebido por Rita Azevedo e Mariana Pinheiro

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 22/01/2020 às 18:18
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Projeto foi concebido por Rita Azevedo e Mariana Pinheiro - FOTO: Divulgação
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Brise, exposição da figurinista Rita Azevedo e da designer gráfica Mariana Pinheiro, parte de uma pesquisa que tem como base a inquietação da dupla com o apagamento, no Recife, do modernismo tropical na arquitetura e no urbanismo. Elas decidiram trabalhar a questão a partir da estamparia, utilizando como referências símbolos desse modo de pensar a cidade que colocava o bem-estar das pessoas em primeiro lugar. Os trabalhos estarão em exibição a partir de o dia 22 de janeiro no Museu do Estado.

Ponto de confluência entre as formações das artistas, a arquitetura modernista e seus contornos tropicais são pensadas como referências estéticas para a criação de estampas que evocam várias memórias afetivas, especialmente para os habitantes do Nordeste. O design apresentado em nove colunas de tecidos em algodão de 6,5 metros de comprimento e 90 centímetros de diâmetro, penduradas no salão central do espaço Cícero Dias, emula formas e traços característicos da adaptação das ideias modernas na arquitetura às especificidades da região.

Em diálogo com a temática, Rita e Mariana aproveitam-se da iluminação natural das clarabóias presentes no teto do museu para ressaltar a potência das obras em serigrafia. As estampas foram nomeadas de Brise, Cobogó, Pergolado, Natureza, Curva, Helicoidal, Norte, Agenciamento, Fachada e Humana.

“O modernismo na arquitetura, trazido para o Brasil no início do século 20, ganhou características próprias no Nordeste. No Recife, uma referência é Delfim Amorim, arquiteto português que utilizou muito cobogó, pergolado. Quando nos inspiramos para criar as estampas – nossa pesquisa, primeiramente, é voltada para o design – queríamos trabalhar esses elementos e também adicionar características mais pop, como na questão das cores. Partimos da arquitetura moderna tropical e de seu apagamento para tocar em questões mais amplas da cidade”, explica Mariana.

Contemplada pelo Funcultura, a pesquisa coloca em debate a verticalização da cidade e a destruição dessa memória o que, para Mariana, é também um apagamento da linha do tempo do Recife. Para ela, a homogeneização das moradias, cada vez mais verticalizadas e com menos contato com a rua, cria uma dinâmica de isolamento da população com implicações sérias em diferentes áreas, da saúde à segurança.

“A identidade da cidade está sendo destruída. Até a arquitetura colonial, que é considerada patrimônio histórico, é constantemente depredada. O modernismo tropical era um projeto de cidade com integração com a natureza, com respeito à escala humana, que acabou nem sendo implementado. Não existe um respeito à memória e, de repente, o jeito de se morar é totalmente preso às formas construtivas mais econômicas, que não prezam pelo contato humano e pela vivência da rua”, enfatiza.

INTERATIVIDADE

Além das colunas com as estamparias, a exposição propõe ao público dois momentos interativos. Um deles é uma projeção de ilusão ótica na qual é possível observar edificações modernistas em Pernambuco em seus projetos originais, como a antiga sede da IBM (atual Tribunal Regional Eleitoral), em contraste com os dias de hoje. A segunda ação interativa disponibilizará papéis em tamanho A3 e carimbos grandes com cinco formas desenhadas pelas expositoras, estimulando o visitante a carimbar e montar livremente sua estampa, que posteriormente serão exibidas nas paredes da galeria, criando um processo de coautoria da exposição.

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