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Delis gourmets nos bairros

Empórios mais caprichados, com opções de comidinhas que recuperam as melhores memórias, se espalham pela cidade

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 14/02/2014 às 6:00
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Se antes era preciso se deslocar para um ou dois endereços referenciais da cidade para conseguir um bom arroz arbóreo ou aquela comidinha pronta com cara de feriado, hoje o conceito de delicatessens e empórios especiais está mais pulverizado pelos bairros. Visitamos três endereços abertos há poucas semanas, para mostrar que, sim, os mercadinhos gourmet estão mais perto.
Nas Graças, o Na Venda não é propriamente uma delicatessen. Mas um empório onde se encontram artigos comestíveis que fazem parte do patrimônio afetivo pernambucano e, sobretudo, da memória gustativa das sócias: as amigas Isabele Almeida, Lydia Leite e Roberta Araújo. “Outro dia, uma senhora veio aqui emocionada porque encontrou um bolo recheado com o doce de umbu que sua avó fazia”, diz Isabele que, com as sócias, faz um verdadeiro trabalho de curadoria. “Não é uma logística fácil, mas resolvemos encurtar distâncias e oferecer, no Recife, as delícias que todo mundo procura quando viaja para o interior.”
Assim, os chocolates são produzidos artesanalmente pela Sete Colinas, de Garanhuns; o sorvete é da Acerolândia, de Paudalho; os pães são da Campo Fértile, uma padaria de trato quase artesanal, em Igarassu. Os doces e compotas que recheiam as trufas de chocolate em Garanhuns, no entanto, vem do Sertão. O umbu, da Cooperativa de produtores de Umbu de Dormentes. Aliás, uma das bebidas que fazem sucesso entre os ciclistas de final de semana é a garrafa de Monark (uma referência à velha marca de bikes): sorvete de acerola da Acerolândia batido com mel, suco de limão e iogurte: R$ 12,50.
Além dos bolos tradicionais, como o pé de moleque, as tortas feitas a partir de receitas de tias, avós e mães das sócias são um deleite. Como a Monjopina (R$9,20, fatia), de massa de bolo molhadinha preparada com coco, passa de caju com cachaça e camada de chocolate ao leite. A torta pernambucana (R$ 8,20) tem camadas de massa fininha de bolo-de-rolo, montadas em discos e intercaladas com geleia de frutas como umbu ou araçá. Receita da mãe de Lydia, o Dona Del (R$ 7,50) é um bolo de castanhas, molhadinho, que em tudo lembra os bolos portugueses de castanha. Embora em menor quantidade, há também salgados como quiches ou coxinhas com massa de macaxeira.
Em Olinda, a Deli Gourmet ganha, de cara, a simpatia pela localização: no casarão da Praça do Jacaré à beira-mar, onde já funcionou o restaurante Chez Georges. Ao entrar, nos deparamos com corredores de produtos especiais, como vinhos, conservas, embutidos, arroz para risoto ou massas italianas. No lugar, os vinhos podem ser consumidos a preço de prateleira, sem cobrança de rolha.
A casa, que funciona há pouco mais de um mês, surgiu também da vontade do casal Wilson Cutrim e Luana Pellussi de reeditar receitas do patrimônio afetivo da família. À noite, por exemplo, a ceia regional da casa é puro deleite: comida confortável, receitas que conhecemos desde criança, com apuro técnico e apresentação estetizada. A macaxeira, por exemplo: leva um choque térmico e fica com uma textura uniformemente macia, como se estivesse escaldada, servida com carne de sol de filé mignon, manteiga de garrafa e um pouco de mel de engenho à parte, em porção individual (R$ 12,50). Recheado com charque, o cuscuz individual leva um pouco de jerimum na massa e fica sutilmente mais adocicado. Uma delícia. No quesito sopas, poucos caldos verdes são tão bem feitos quando o da casa (R$ 8), sem adição extra de amido, apenas a batata perfeita dissolvida no caldo. Em vez de chouriça, linguiça calabresa.
Os minicakes, bolos, tortas e docinhos de festa também ouriçam os aficionados por doces. Aliás, o bolo-real, com creme de leite fresco na massa, é um dos destaques. No almoço, o cliente escolhe a proteína e agrega até dois acompanhamentos. Para acompanhar a cerveja ou um vinhozinho, há um pequeno cardápio com comidinhas. A charque crocante com coalho maçaricado é boa pedida (R$ 10,20), ou ainda o mignon com legumes perfeitamente salteados e farofa de jerimum (R$ 17,90). Aquela região de Olinda precisava de um serviço assim.
Com duas unidades na Jaqueira, uma delas na pequena e charmosa Praça Flemming, o Empório Gerbô é fruto do perfil globbe-trotter gastronômico da proprietária, Valéria Alcoforado. Viajante compulsiva, ela acabou adicionando às prateleiras já repletas dos produtos tradicionais e importados da delicatessen, uma série de artigos nacionais produzidos por indústrias artesanais. Ali, encontramos doces de Minas Gerais e de Goiás, provolone desidratado também de Minas (delicioso), e uma baba de moça (aquele doce de coco verde) bem pernambucana e perfeita feita na casa. É grande a oferta de guloseimas, o que faz da casa uma delicatessen capaz de concorrer com as grandes do mercado. No empório, há também oleaginosas e nozes especiais, como as amêndoas defumada e agridoce.
Com um pequeno café, a casa oferece também iguarias regionais como a tapioca rendada (R$ 8) coberta com por uma teia irresistível de queijo do reino. Ou uma pamonha irresistivelmente recheada também com o queijo do reino.
Na Venda – Rua Amélia, nº 373, Graças, Recife. Segunda: das 14h às 20h. Terça a sábado: das 9h às 20h. Fone: 3242-5652. Deli Gourmet. Manoel Borba, nº 350, Olinda. Diariamente, das 9h às 21h. Fone: 9929-7766. Empório Gerbô. Rua Antenor Navarro, nº 81, Loja 13; e Rua Muniz Tavares nº 72 A, Praça Fleming, ambas na Jaqueira, de segunda a sábado, das 8h às 20h

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