Japonês

Mura Orora é oriental tradicional e contemporâneo ao mesmo tempo

Num casarão do começo do século passado, em Casa Forte, restaurante oferece gastronomia bem executada, criativa e sofisticada

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 09/05/2014 às 6:00
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Nem pegamos no cardápio, já estamos envolvido com o lugar. Misto de elegância contemporânea com historicidade, o Mura Orora oferece um artigo raro nesses tempos mais ou menos padronizados de concreto, alguma madeira e refrigeração central: ambiência única. Funcionando num casarão restaurado de 1910 que guarda a memória mais remota do bairro de Casa Forte, a casa seduz pelos olhos.
Se há um mérito explícito no novo empreendimento do empresário Bruno Carrazone (do Loft e do Le Fondue, também em Casa Forte), é o devolver o casarão à cidade. Com 180 lugares, a casa consegue ainda ser absolutamente aconchegante. São cinco ambientes, inclusive um salão suspenso onde eventos particulares ou corporativos podem acontecer em privacidade.
Mas dois deles são especialmente sui generis: primeiro, o jardim da entrada onde o bartender Braynner Scherz respalda os petiscos com drinques sofisticados, alguns à base de sakê, e cervejinhas especiais; o outro é o pátio interno, à moda ibérica, um grande alpendre em forma de “U” ao redor de um jardim de inverno que parece nos colocar em qualquer página de García Márquez.
Mas o restaurante não é apenas beleza. Estreia com um conteúdo superlativo, maduro e instigante. No comando das facas (e das poucas panelas), está Edson Leite, sushiman de talento talhado em outras casas do Recife. Mura, em japonês, significa Vila. Orora é uma referência ao nome Aurora escrito no brasão do frontispício do casarão.
Ali, Edson executa com atenção minimalista uma gastronomia japonesa pós-moderna: tradicional e contemporânea ao mesmo tempo. “O cliente daqui tanto quer novidades, como não abre do tradicional bem feito”, diz ele, sobre a república de shashis em que se transformou a cidade. Vejamos, por exemplo, os combinados da casa. As barcas de sushis e sahimis variados contemplam não só os tradicionais, mas também novidades. Entre elas, uma criação de Edson que deve fazer escola: um sushi sem arroz. Tecnicamente um não sushi (já que a iguaria é definida, necessariamente, pela presença do arroz), o acepipe é enrolado com fitas de folha de acelga. O que leva tartar de atum no contéudo é especial.
Atum, aliás, é um peixe-síntese da qualidade da casa. Com um esforço de logística notável em busca de ingredientes de qualidade para uma faixa de preço confortável dentro da categoria em que está inserido, o restaurante compra seus atuns de um exportador que raramente concorda em vender seus peixes para o mercado local. É de um frescor notável. O sunomono da casa custa módicos R$ 12. Leva pedaços grandes de peixes em quadrados, e pouco caldo temperado. É quase uma salada de peixe com pepino.
No terreno criativo, há pequenas pérolas que marcam a memória do paladar. Um deles é o maguro spuk. Trata-se de tartar de atum picado à faca com gengibre e alho-poró fritos envolto com lâminas do próprio atum. Precioso. O guy tataki traz lâminas de filê sauteadas e tão bem marinadas que suas fibras fazem parecer que estamos comendo peixe, sobretudo pela presença do molho ponzu (R$ 29) No almoço, há opções de combos com pratos quentes. Há apenas um problema no cardápio: é grande e sedutor demais para que possamos compreendê-lo numa única visita. Será preciso voltar muitas vezes - o que não seria, mesmo, má ideia. A casa merece entrar para a geografia gastronômica obrigatória da cidade.
Mura Orora. Av. 17 de agosto, 1008, Casa Forte. Almoço: de terça a domingo 12h às 16h. Jantar: 17h até o último cliente. Sábados e domingos das 12h até o último cliente. Fone: 3442-1174.

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