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Cordel é reduto de boa comida sertaneja no Espinheiro

Natural de Cabrobró, a chef Luciana Lima renova suas heranças culinárias

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 05/09/2014 às 6:00
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Não subestimem o conhecido, aquilo que, de tão cotidiano, estamos acostumados a lacrar na gaveta do previsível. Vejamos, por exemplo, o que Luciana Lima tem feito pela boa e insubstituível cozinha nordestina. No Cordel, ambiente informal que conjuga evocação a boteco interiorano com um certo padrão boêmio de classe média urbana, essa sertaneja tem ampliado o que entendemos por tradições culinárias locais.
    Na hora do almoço, de segunda a sexta, o Cordel funciona com o inevitável sistema de refeição no peso imposto pelos advogados e outros profissionais liberais do Espinheiro, todos que ali podem ir almoçar andando, sem precisar enfrentar os engarrafamentos pontuais. Apenas um trivial bem executado. É nas opções “a la carte”, no entanto, tanto servidas nos almoços de semana como à noite e nos finais de semana, quando não há concorrência com o serviço no quilo, que a casa revela seu melhor potencial. É quando Luciana Lima percorre às memórias gustativas de seu afeto. Sertaneja de Cabrobró, veio morar no Recife para estudar Direito. A vocação para a gastronomia a fez trancar o outro curso, investir na formação culinária, estagiar pela cidade até entrar como auxiliar na equipe montada pelas chefs Lícia Maranhão e Taciana Teci quando atuaram como as primeiras consultoras do Cordel, há dois anos. Com o fim da consultoria, Luciana foi ganhando espaço até assumir a chefia.
    Os pratos de resistência confirmam a importância que possuem na mesa local. A básica carne do sol (R$ 42,90, como petisco), com macaxeira molinha e queijo de coalho derretido, vale por uma viagem ao interior. É suculenta, macia, feita rigorosamente com filé mignon. O bode assado é tenro como dificilmente essa carne consegue ser no Recife (R$ 66,90, para 3 ou 4 pessoas, a depender do apetite). Tem também o classiquinho franguinho de leite desossado assado na brasa (R$ 54,90).
    Como é uma filha legítima da cultura láctea interiorana, a chef incorre em acompanhamentos (sempre escolhemos dois ou três para cada principal) que são pura diversão entre as possibilidades culinárias da cultura nordestina. Entre eles, o baião de dois com carne seca devidamente banhando em nata ou também um arroz de nata, uma espécie de piamontês sertanejo. O capítulo de farofas é um presente para os fãs do artigo: de bolão, de jerimum, de ovos e de banana, adocicada e muito bem na companhia de carnes mais salgadas.
    A casa convida também para uma cerveja geladinha enquanto se passeia pelos petiscos. Entre eles, uma ideia que fez fama com o restaurante Mocotó, de São Paulo, e está aqui também representado: dadinhos de tapioca (sagu), uma massa previamente hidratada, cozida e depois frita com queijo, e servida com mel de engenho. Há também uma seleção de cortes suínos defumados, produzidos pela fazenda Serrana, de Gravatá, que são pura alegria antes do almoço ou na happy hour. A porção de linguiça defumada e flambada na cachaça (R$ 27) com vinagrete e farofa é impagável. Há também bolinhos. Mas o de feijoada, meio seco por dentro, não é dos melhores desde que a carioca Katia Barbosa, do Aconchego Carioca, inventou a iguaria. O mix de sobremesas pernambucanas (doce de leite do sertão, minicartola, brigadeiro de panela, etc.) é também de fazer quebrar a dieta.
    Com salão ampliado e climatizado há cerca de seis meses, o Cordel perdeu em charme, mas ganhou em conforto. Nas horas de pique, o serviço pode ser displicente - o que não chega a ser um privilégio da casa, mas da própria cidade.

 

Cordel Bar e Restaurante – Rua da Hora, 837, Espinheiro. Funcionamento: todos os dias, almoço e jantar, até o último cliente. NA segunda, apenas almoço a partir das 11h30. Fone: 3033-4126.

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