Simples e saboroso

Dona Rosa traz tempero ao Hotel Central

Cozinheira tarimbada, Dona Rosa assume o restaurante no térreo do icônico edifício, localizado na Boa Vista. Faz comida caseira de alta qualidade

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 22/11/2018 às 10:41
Felipe Ribeiro / JC IMAGEM
Cozinheira tarimbada, Dona Rosa assume o restaurante no térreo do icônico edifício, localizado na Boa Vista. Faz comida caseira de alta qualidade - FOTO: Felipe Ribeiro / JC IMAGEM
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A mãe, dona Miúda, mal chegava perto da cozinha. Era o pai, Manoel Lourenço, conhecido como Badu nas rodas de serestas do Recife ou sob o luar da orla de Olinda, quem recrutava a menina para a lida com as panelas. Aos dez anos, Rosanir Maria da Silva Nascimento, depois de nascer e de uma primeiríssima infância nas imediações da Caxangá, vivia com a família num sítio em Ouro Preto, numa distante zona rural olindense onde as praticidades da capital em urbanização mal chegavam. “Naquela época, não tinha esse negócio de comprar galinha pronta, abatida, no mercado. Quando se queria comer galinha, tinha que ir no quintal e matar o bicho”, lembra dona Rosa que, hoje, aos 51, mistura a herança da cozinha “de sítio” com o classicismo da culinária da hotelaria dos anos 70 na qual começou a trabalhar, também menina-moça, aos 15. Há um ano, ela comanda o restaurante no térreo do histórico Hotel Central do Recife.

Ex-funcionária da casa, dona Rosa vem fazendo a alegria de quem ali vai para comer no mesmo lugar em que, ao longo dos 90 anos da história do hotel, ícone do Recife do século 20, comeram também personalidades como Getúlio Vargas, Carmem Miranda e Orson Welles. São tempos mais sóbrios. Não há mais garçons de fraque, talheres de prata ou mobília em jacarandá. Com serviço atencioso da simpática garçonete Lu e o sorriso discreto e constante de Dona Rosa por trás dos óculos, o luxo ali está no primor da comida caseira com doses daquilo que os hotéis do mundo, com muito bechamel e molho madeira, consagrariam como “culinária internacional” – além da arquitetura eclética bem preservada daquele que chegou a ser o mais alto prédio da cidade.

NADA DE CUBINHO

“Não suporto caldo industrial de cubinho, isso é coisa de preguiçoso. Um verdadeiro molho madeira tem que ser feito com caldo de carne de verdade. Demora”, diz ela, que aprendeu os molhos clássicos e ícones da cozinha portuguesa, como seu bacalhau em natas, também com o pai. Taifeiro, seu Badu trabalhou por anos nas cozinhas dos grandes navios de cruzeiro.
Em que outro lugar do Recife podemos comer uma peixada servida individualmente? Além do luxuoso e centenário restaurante Leite, apenas no Tempero na Rosa. Com uma posta farta de peixe firme, legumes bem cozidos, tudo à escabeche, ou seja, no caldo do próprio peixe, a peixadinha de dona Rosa é um primor. Amarelinho e fumegante, ovos por cima, o pirão é um afago. Como o peixe de coco, a cabidela, o fígado, o cozido ou bife de panela, tudo feito com simplicidade, carinho e critério. Cada prato custa entre R$ 15 e R$ 20.

Disposta, dona Rosa toca a casa todos os dias, das 6h às 21h (no domingo, fecha às 14h). Cedinho, oferece um bufê de café da manha regional por módicos R$ 15. Tudo com aquele jeitinho impagável de casa de vó.

Tempero da Rosa, térreo do Hotel Central do Recife. Av. Manoel Borba, 209, Boa Vista. Fone: 3222-2353

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