O novo apresentador do Oscar, o diretor Seth McFarlane, até que tentou segurar a onda, mas seu humor duvidoso – para nossa sorte – foi descarregado nos primeiros 15 minutos da transmissão, que se estendeu até às 2h da madrugada de segunda-feira (25/02). A festa, em si, teve poucos momentos brilhantes. Só as coreografias de musicais produzidos recentemente, como Chicago e Dreamgirls, mostraram algum brilho.
De vez em quando, parecia até que estávamos assistindo ao Grammy, já que grande parte das atrações se reduziam a números musicais, entre elas a apresentação das cantoras Shirley Bassey (em homenagem à série 007) e Barbra Streisand (no memorial ao compositor Marvin Hamlisch). As apresentações das canções indicadas ao Oscar foram desastrosas. Na última, Norah Jones sequer teve tempo de respirar e logo viu Adele sendo agraciada com o Oscar da categoria.
Com uma premiação pulverizada em três filmes – As aventuras de Pi, Os miseráveis e Argo dividiram dez estatuetas –, e resultado previsível em várias categorias, a 85ª cerimônia de entrega do Oscar é o que se pode chamar de mais do mesmo. Ou seja, por mais que tente, a massa de associados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood nunca surpreende. E quando surpreende, pasmem, nunca é para melhor. Esse ano, não foi muito diferente das histórias de injustiças cometidas ao longo de tantos anos.
O mais ridículo foi o que aconteceu com Lincoln. Suas 12 indicações, no cômputo geral, se reduziram à conquista de duas estatuetas: o óbvio Oscar de Melhor Ator para Daniel Day-Lewis e um equivocado Oscar de Melhor Direção de Arte (melhor seria se tivesse ficado com Anna Karenina, que já havia ganho o de Melhor Figurino). Imaginem o quão importante seria se a primeira-dama Michelle Obama anunciasse Lincoln como o Melhor Filme do Ano. Afinal, os quase 150 anos que separam a aprovação da 13ª emenda e a presença do casal Obama na Casa Branca levam a inúmeras ilações sobre a história dos Estados Unidos.
Pois é, a Academia perdeu um ótima oportunidade de fazer história. Isso, na verdade, não tira os méritos de Argo, o bom thriller dirigido e interpretado por Ben Affleck. Nem mesmo certos laivos de belicosidade, que se intrometem na trama real dos diplomatas americanos retirados do Irã por meio da engrenagem industrial de Hollywood, atrapalham o filme. Mas não deixa de ser muito arrogante a atitude de um país ao entrar em outro sem esclarecer o que vai fazer por lá. Além disso, o Oscar de Melhor Filme acabou se tornando uma espécie de mea culpa em relação a não inclusão de Affleck nas categorias de Melhor Ator e Melhor Diretor.
As aventuras de Pi, que corria por fora, acabou levando o maior número de prêmios do Oscar 2012. Foram quatro Oscar, incluindo o de Melhor Diretor para o sino-americano Ang Lee. Amor, de Michael Haneke, confirmou seu favoritismo e levou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, como também a dupla Jennifer Lawrence (Melhor Atriz) e Anne Hathaway (Melhor Atriz Coadjuvante).
Mas poucos artistas ficaram tão felizes quanto Quentin Tarantino e Christopher Waltz. Eles repetiram a parceria de Bastardos inglórios e paparam o Oscar de Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante, respectivamente.
