CINEMA

A poesia do novo cinema português em Tabu

Filme entra em cartaz no Cinema da Fundação

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 13/09/2013 às 6:02
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Filme entra em cartaz no Cinema da Fundação - FOTO: Divulgação
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A onda preta & branca que atingiu o Cinema da Fundação, desde a estreia do espanhol Branca de Neve, ganha um novo round a partir desta sexta-feira com o lançamento do longa português Tabu (2012), de Miguel Gomes. Vencedor do Prêmio Alfred Bauer (de inovação artística), no Festival de Berlim 2012, Tabu tem algumas semelhanças tanto com Branca de Neve quanto com o francês O artista, de Michel Hazanavicius.

Para além do parentesco entre os filmes, Tabu se diferencia por manter um olhar para o cinema europeu e não para os gêneros fundadores do cinema americano. Sem escamotear suas intenções, Gomes volta-se para a obra do alemão F. W. Murnau, autor dos clássicos Tabu (1931) e Aurora (1927), dois títulos que estão mais à vista no seu filme, que tem o Brasil como coprodutor.

Igualmente filmado em P&B e na janela 1:1,37, Tabu faz uma reflexão sobre o passado colonial português filtrada pelo amor ao cinema. Com ironia, a primeira parte mostra um colonizador que vai à África e se deixa devorar por um crocodilo. Este nonsense perpassa toda a extensão do filme, como a utilização do canção pop Be my babe, das Ronettes, que está presente nas cenas contemporâneas e também nas situadas na África da década de 1950.

Ainda hoje, Murnau é reverenciado pelos contrastes de suas ideias, como as diferenças entre o campo/cidade e paraíso/paraíso perdido. A segunda parte, por sinal, começa com o letreiro “Paraíso Perdido”. Mostra, em Lisboa, as pequenas preocupações de uma senhora aposentada e seus problemas familiares, como a arenga com uma empregada e a espera de uma filha que nunca aparece.

Na última parte, que se reconecta com a primeira, Miguel Gomes conta a história da juventude de Aurora, que antes de morrer faz um pedido às duas mulheres para encontrarem um tal de Gian Luca Ventura. Aposentado e vivendo num asilo, Gian Luca (Henrique Espírito Santo) relata o romance que viveu com Aurora. Nesta grande narrativa, que abarca quase a totalidade de Tabu, é que Gomes demonstra todo o seu talento de realizador, já conferido em Aquele querido mês de agosto (2008). 

Narrado na primeira pessoa, com a própria voz do cineasta, o jovem músico Gian Luca (Carlotto Cotta) conta o que viveu com Aurora (Ana Moreira) quando ele a conheceu em Moçambique, na fazenda em que ela morava aos pés do Monte Tabu. É neste Paraíso que Aurora, casada e grávida, se apaixona por ele. Como na linguagem do cinema mudo, Gomes abdica dos diálogos, só que tampouco usa cartelas. Embora os atores falem normalmente, a banda sonora só registra a música e ruídos do ambiente. Poesia pura.

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