Despedida

O cinema foi a vida e arte de Fernando Spencer

Cineasta e crítico pernambucano morreu esta segunda-feira (17/3), após longa batalha contra o câncer

Marcos Toledo
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Marcos Toledo
Publicado em 18/03/2014 às 6:00
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Parentes, amigos e admiradores se despediram ontem, no Cemitério de Santo Amaro, do cineasta e jornalista Fernando Spencer, 87 anos, que faleceu na manhã desta segunda-feira (17/3). O sepultamento ocorreu às 17h.

Nascido no Recife, Fernando José Spencer Hartmann se iniciou no jornalismo na década de 1950 e se tornou um dos críticos de cinema mais atuantes do Estado. A partir de 1969, começou sua carreira como cineasta. Dirigiu mais de 40 produções, a maioria curtas-metragens rodados em Super 8, 16 mm, 35 mm e vídeo, característica que lhe rendeu o apelido O Cineasta das Três Bitolas (em referência aos tipos de películas empregados).

Spencer, que também foi responsável pela Cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco e, junto com o também crítico de cinema Celso Marconi, atuou ainda como programador das primeiras Sessões de Arte da cidade, mais do que um diretor de cinema foi a principal influência dos cineastas pernambucanos que começaram a se projetar a partir dos anos 1980, sobretudo ao mostrar que fazer cinema é possível, independentemente dos recursos.

O cineasta também era, desde 2007, Patrimônio Vivo de Pernambuco, título que reconhece a contribuição de artistas renomados que mantêm a rica tradição da cultura popular do Estado.

A inspiração de Fernando Spencer para fazer cinema sob quaisquer circunstâncias remete aos primórdios do cinema pernambucano, o chamado Ciclo do Recife, o qual era profundo conhecedor e admirador.

Em tributo ao diretor, o também cineasta Paulo Caldas rodou, em 1987, o curta O Bandido da Sétima Luz, no qual o próprio Spencer faz uma participação especial.

Apesar de celebrado pelos amantes do cinema em seu Estado, Fernando Spencer nem sempre contou com o apoio necessário para realizar seus sonhos em película ou vídeo. Na iniciativa privada, teve como principal incentivador o produtor Genivaldo di Pace, dono da Center, produtora que patrocinou diversos de seus filmes por meio de recursos técnicos.

Em 1997, ressentia-se de incentivo aos realizadores locais. Em entrevista ao JC, afirmou que tinha várias ideias na cabeça, que sempre esbarravam na falta de incentivo. E chegou a ameaçar: “Vou embora do Recife”. Ele nunca foi e continuou a defender o cinema até seus últimos momentos, mesmo após sofrer um infarto e ser submetido a uma angioplastia, em setembro de 2003.

Apenas em 2005, o reconhecimento à obra de Fernando de Spencer saiu do mero discurso e se transformou em iniciativa prática. A preocupação do autor, de ter sua obra preservada, tornou-se realidade com o projeto Paixão de Cinema, da produtora Página 21, que resultou no DVD duplo contendo o documentário homônimo de Marcílio Brandão e 13 do 29 curtas digitalizados de Spencer, lançado em 2007, mesmo ano em que o Cine PE: Festival do Audiovisual também prestou uma homenagem ao cineasta pela passagem de seus 80 anos de idade.

De acordo com Renato Spencer, um dos filhos de Fernando, seu pai estava acometido de um câncer pulmonar havia cinco ou seis anos. A luta do cineasta pela sobrevivência levou um baque, em julho passado, quando sua esposa, Inês, faleceu.

Entre idas e vindas ao hospital, Fernando Spencer foi internado na última quarta-feira (12/3), com um quadro de infecção pulmonar, não resistindo e vindo a falecer na manhã de ontem. Ele deixou seis filhos, oito netos e 13 bisnetos.

Leia a matéria completa na edição desta terça-feira (18/3) do Caderno C do Jornal do Commercio

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