HOMENAGEM

O adeus tardio a uma figura paterna

Fernando Spencer é homenageado em sessão especial no Cinema da Fundação

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 22/03/2014 às 6:02
Alexandre Belém/JC Imagem
Fernando Spencer é homenageado em sessão especial no Cinema da Fundação - FOTO: Alexandre Belém/JC Imagem
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Reza a etiqueta jornalística que repórter só escreve em primeira pessoa quando tem experiência comprovada pelo tempo ou quando discorre sobre algo muito pessoal. Então, peço licença aos leitores e aos colegas para lembrar um pouco do meu relacionamento com Fernando Spencer, o jornalista e cineasta pernambucano que morreu na última segunda-feira. Hoje, ele será homenageado numa sessão gratuita, com a exibição de cinco curtas, no Cinema da Fundação, às 16h10min.

Por motivos profissionais não estava no Recife e não tive como dar adeus a Spencer. Como todos que o conheceram e conviveram com ele, fiquei muito triste com o seu falecimento. Senti a sua morte tanto quanto a do meu pai.

Mas isso se explica. Quando vim morar no Recife, em dezembro de 1980, eu ainda vivia a perda do meu pai, que morrera em abril de 1977. Nos seus últimos anos de vida, quase todo fim de semana ele me levava ao Cine Brasília, em Bom Conselho, onde passei toda a minha adolescência.

Ao chegar ao Recife, não deu um ano e encontrei duas figuras paternas de primeira grandeza: Celso Marconi e Fernando Spencer, os críticos de cinema do Jornal do Commercio e do Diário de Pernambuco, respectivamente. Não foi por acaso, claro. Depois de frequentar o Cinema do Parque durante um mês, conheci Celso e disse para ele que gostaria de ser apresentado a Spencer. Escrevi três páginas de papel pautado e dei para Spencer quando o conheci.

Entre outras coisas, dizia que recortava a coluna dele quase diariamente e que tinha feito a minha a lista dos melhores filmes do ano. Dois dias depois, me surpreendi ao ver a lista do “jovem cinéfilo” José Ernesto de Barros publicada na sua coluna.

A minha amizade com Celso e Spencer perdurou por todos esses anos. Mas aqueles primeiros anos foram marcantes para mim. Se não os tivesse conhecido, certamente seria outra pessoa e nem estaria aqui. Entre 1982 e 1984, eu via os dois quase diariamente. Durante a semana, ia para a casa de Celso, no Bairro Novo, em Olinda, e no sábado, ia para a casa de Spencer, no Poço da Panela. 

Passava a tarde e a noite conversando sobre Federico Fellini, Nino Rota, Charles Chaplin, Alfred Hitchcock e Marilyn Monroe. E ainda víamos filmes, como os Super8 que ele projetava na parede do seu escritório. Depois, dormia no mesmo quarto de Ricardo e Renato, seus filhos, e ainda recebia o carinho de Inês, sua mulher.

Anos depois, em 1991, tive a sorte de fazer a montagem do documentário Ciclo – Uma história de amor em 16 quadros por segundo, que ele fez em parceria com Amin Stepple. Tantos anos depois, ainda lembro de cada tarde que passamos perdidos nos sonhos dos cineastas do Ciclo do Recife. Adeus, Spencer. E não deixe de fazer filmes no céu.

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