CINEMA

Bonequinha de luxo de volta aos cinemas em cópia restaurada

Filme é o cartaz da Sessão de Clássicos da rede Cinemark

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 05/07/2014 às 6:00
Paramount Pictures/Divulgação
Filme é o cartaz da Sessão de Clássicos da rede Cinemark - FOTO: Paramount Pictures/Divulgação
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Nova Iorque, exterior, dia. Nas primeiras horas da manhã, a Quinta Avenida está praticamente vazia. Ao longe, um táxi estaciona numa calçada. Com um leve movimento panorâmico, a câmera direciona a atenção do espectador para uma mulher que sai do veículo e fica parada em frente a uma loja. Jovem, elegante, magra e etérea, ela parece flutuar. Em suas mãos, um folhado dinamarquês e um copo de café. 

Todas as manhãs, a call girl Holly Golightly tem seu momento de epifania ao olhar através do espelho – qual uma Alice no País das Maravilhas – para os diamantes e pedras preciosas da joalheria Tifanny’s. Ao fundo, uma melodia inconfundível deixa o espectador em êxtase. Os acordes de Moon river dão o toque mágico à sequência de abertura de Bonequinha de luxo (Breakfast at Tifanny´s, no original), uma das comédias românticas mais deliciosas da história do cinema. O filme encerra primeira temporada da Sessão de Clássicos do Cinemark RioMar, com exibições hoje, amanhã e quarta-feira (confira os horários na página 6), em versão restaurada e em DCP.

“As seqüências iniciais são como um convite para o espectador entrar no universo proposto pelo diretor. Mais do que apresentar personagens, trama, etc, nos bons filmes o começo é o estabelecimento de um pacto com o espectador, uma definição de ‘tom’, digamos assim”, explica o crítico de cinema carioca Pedro Butcher, que vem estudando a maneira como os cineastas começam e terminam suas obras. “O final de um filme é uma continuação, uma forma de definir como aquela experiência vai continuar na cabeça do público”, conclui.

Do começo ao fim, Bonequinha de luxo é uma obra-prima consumada, um primor de realização cinematográfica. Mais uma vez, os cinéfilos de carteirinha vão bater ponto para (re)ver o mais cult e famoso filme de Audrey Hepburn, talvez a atriz mais chique e bela a ter botados os pés em Hollywood. A cada década, uma cópia escapa dos cofres da Paramount e chega aos cinemas brasileiros. Dessa vez, o filme está de volta graças a onda de restauração de clássicos que varre o planeta.

Lançado em 1961, Bonequinha de luxo colocou em evidência os principais nomes envolvidos em sua realização: o diretor Blake Edwards, o compositor Henry Mancini, o escritor Truman Capote e, claro, Audrey Hepburn. Apesar de já famosa e dona de um Oscar de Melhor Atriz por A princesa e o plebeu, em 1954, a carreira de Audrey não seria a mesma se não tivesse interpretado Holly Golightly. Depois de Holly, todas as mulheres do mundo queriam imitar a personagem, usar suas roupas (criadas por Givenchy) e seus óculos (estilo Manhattan, de Oliver Goldsmith).

Mais do que tudo, no entanto, foi o comportamento livre de Holly e sua incerteza quanto ao amor que fizeram com que o filme mantivesse sua aura de clássico atemporal. Ainda hoje, é difícil saber se ela era mesmo uma garota de programa de luxo, que ganhava US$ 50 só para ir ao banheiro, ou uma menina maluquinha, que fugia de uma existência sem brilho, só lhe restando correr atrás de fortuna do jeito mais absurdo e venal. Quando foi contratada para fazer o filme, Audrey tinha 31 anos, com idade suficiente para substituir Marilyn Monroe (a preferência de Truman Capote, mas que desistiu para não ver seu nome ligado a uma garota de programa) e ganhar R$ 750 mil de cachê, um quantia inferior apenas ao recorde de R$ 1 milhão que Elizabeth Taylor recebera em 1960 para atuar em Cleópatra.

Apesar de famoso como escritor e como celebridade, Truman Capote não conseguira fazer carreira em Hollywood. Ele não escreveu o roteiro da novela de sua autoria, mas usufruiu do sucesso de Bonequinha de luxo e manteve seu nome em alta até a publicação de romance-reportagem À sangue-frio, em 1966. Para o compositor Henry Mancini, por exemplo, o filme foi uma bênção. Além de compor a trilha, ele compôs Moon river especialmente para o alcance vocal de Audrey. Ela só canta a música uma vez, mas a melodia perpassa toda a narrativa, marcando principalmente os momentos de solidão de Holly.

Já com experiência anterior, o diretor Edwards e Mancini fizeram uma dupla de sucesso por mais de 30 anos, inclusive com a série A pantera cor-de-rosa, entre 1963 a 1993. Com o tempo, Edwards revelou-se um diretor versátil, mas que se dava melhor quando podia exercer seu humor fino e corrosivo, professado até o fim da vida. Em Bonequinha de luxo seu toque de classe está presente na elegância e sensibilidade com que deixa Holly Golithly respirar e tomar suas atitudes, por mais absurdas que pareçam. Para vencer a censura, ele deixou grande parte das ações de Holly e Paul Varjak (George Peppard) para ser entendida nas entrelinhas. Varjak, o escritor que se apaixona por Holly, é mantido financeiramente por uma mulher mais velha.

Para os brasileiros, Bonequinha de luxo é lembrado também pelo personagem José da Silva Pereira, um ricaço que quer levar Holly para o Brasil sem que ninguém saiba, já que sua imagem, negócios e família não podem se manchar. À espera do noivo, enquanto faz crochê e cozinha, Holly aprende português em discos de vinil. O português, claro, não é lá muito castiço, com sua pronúncia quase espanholada. Mas, espanhol mesmo é José Luis de Vilallonga, o ator que faz o playboy de quinta categoria, apesar de muito brasileiro. Vale, ainda, lembrar das participação hilárias de Mickey Rooney (o Sr. Yunioshi) e do gato (Orangey) sem nome, que acaba tendo uma importância fundamental no romance entre Holly e Paul. Por esta e outras é que vale apena ver de novo Bonequinha de luxo.


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