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O voo rasante de Deborah Secco em Boa sorte

Filme está na Mostra Competitiva do Paulínia Film Festival

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 26/07/2014 às 9:06
Imagem Filmes/Divulgação
Filme está na Mostra Competitiva do Paulínia Film Festival - FOTO: Imagem Filmes/Divulgação
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Depois do triunfo da cineasta paulista Juliana Rojas, com o seu impecável Sinfonia da necrópole, o segundo dia da Mostra de Longas-metragens do VI Paulínia Film Festival, na noite de quinta-feira (25/7), também foi das mulheres. A apresentação de Boa sorte, primeiro filme da carioca Carolina Jabor, que tem como protagonista a estrela Deborah Secco, superlotou o Teatro Paulo Gracindo. Apesar de não ter o toque autoral de Juliana, o filme de Carolina tira partido do poder de atração de Deborah. Afinal, nenhum festival resiste sem a presença das estrelas que conseguem levar um grande público ao cinema.

Em 2011, Bruna Surfistinha, estrelado por Deborah, levou mais de 2 milhões de espectadores ao cinema, ficando no terceiro posto entre os filmes brasileiros mais vistos do ano. Quando subiu ao palco, ela disse que Boa sorte é um divisor de águas em sua carreira. “Este é o tipo de atriz que quero ser a partir de agora”, explicou. Deborah pode até não ter os atributos artísticos artíticos que pensa possuir, já que seus atributos físicos chamam mais a atenção, mas ninguém pode negar que ela fica eternamente numa zona de conforto. Se quisesse, ela poderia se dedicar às comédias e ser muito mais feliz financeiramente.

Assim como em Bruna Surfistinha, seu personagem em Boa sorte lhe permite voos mais rasantes em carreira de atriz. Dessa vez, ela é Judite, uma jovem de seus 30 e poucos anos que vive internada em uma clínica psiquiátrica. Apesar de seus problemas psiquícos, de dependência a um sem número de drogas, ela está condenada à morte. Soro positiva e portadora de hepatite C, ela não pode mais tomar a medicação para controlar o vírus, que a cada invade mais o seu organismo. Judite será a musa de João (João Pedro Zappa), um adolescente de 17 anos, também dependente de remédios, que é internado pelos pais.

Boa sorte é uma adaptação de um conto escrito pelo gaúcho Jorte Furtado. Ele e o filho Pedro assinam o roteiro. Carolina Jabor demonstra segurança em seu primeiro longa-metragem. Apesar da experiência com a publicidade, ela não se deixa contaminar pelo ritmo excessivo ou fotografia estilosa dos filmes de 30 segundos. Além do casal Deborah Secco e João Pedro Zappa, ela conta com a presença de Enrique Diaz e Fernanda Montenegro. Em uma cena, quando fuma um baseado, Fernanda prova porque é a granda dama do cinema brasileiro.

O segundo longa-metragem em competição foi o docudrama Castanha, do gaúcho Davi Pretto. Com passagem pelo Festival de Berlim (Mostra Forum) e vários outros mundo afora, o filme captura o dia a dia um tranformista. João Carlos Castanha desde os anos 1980 faz performances em boates gays de Porto Alegre. O filme mistura constantemente as linguagens do documentário e do cinema de ficção, misturando o que é verdade e ilusão ao perfilar um personagem outsider. Castanha vive com a mãe, uma senhora de 72 anos, mas a vida deles é constantemente assombrada por um adolescente, neto da mulher, que é viciado em crack.

Dirigido com requinte e liberdade narrativa, Castanha é um filme que procura uma nova linguagem para o cinema, seja ele documentário ou não. David Pretto investiga a fundo o personagem, principalmente nas antípodas de seu modo de vida, como se Castanha fosse um ator em tempo integral. Vale salientar, também, a beleza da fotografia noturna assinada por Glauco Firpo, principalmente quando Castanha volta para casa de madrugada e se esgueira solitário por ruas e estações de ônibus.

O repórter viajou a convite da organização do festival.

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