CINEMA

Filmes pernambucanos são fortes candidatos a prêmios no Paulínia Film Festival

Cerimônia de premiação acontece neste domingo (27/7), a partir das 19h30

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 27/07/2014 às 15:13
Artshouse/Divulgação
Cerimônia de premiação acontece neste domingo (27/7), a partir das 19h30 - FOTO: Artshouse/Divulgação
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A Mostra Competitiva do VI Paulínia Film Festival pegou fogo no fim de semana com a exibição de quatro fortes candidatos ao Pêmio de Melhor Filme e a bolada de R$ 300 mil. Os dois longas produzidos em Pernambuco estão no páreo, mas a disputa será duríssima. A cerimônia de premiação acontece neste domingo (27/7), às 19h30, no Teatro Paulo Gracindo, em Paulínia.

No sábado à noite, os espectadores que lotaram o teatro ficaram em êxtase – apesar de alguns terem saído durante a projeção – com as imagens lindas e a forte narrativa do longa A história da eternidade, primeiro longa-metragem do pernambucano Camilo Cavalcante. Entre os nove concorrentes da Mostra Competitiva de Longas-metragens, foi o único a receber palmas em cena aberta. Perto de uma hora de projeção, a cena em que Joãozinho (Irandhir Santos) dubla a canção Fala, dos Secos e Molhados, tocou fundo a plateia, que não se conteu e apludiu a performance do ator.

A história da eternidade marcou o festival não só pela força de suas imagens, mas também pela trama inteligente, que entrecuza três histórias de desejo no sertão. As atuações de Irandhir, Marcélia Cartaxo, Zezita Matos, Débora Ingrid e Cláudio Jamborandy se mostratram coesas e sem retoques. Tecnicamente, o filme é um deslumbre, com destaque para a fotografia caravaggiana de Beto Martins e o encontro mágico das sonoridades de Dominguinhos e Zbigniew Preisner (compositor polonês famoso pela parceria com o cineasta Krzystof Kieslowski).

Na sexta-feira, Lírio Ferreira já havia maravilhado meio mundo com Sangue azul. Numa clave bem menos realista, Lírio entrega seu quinto longa-metragem – dois documentários e três ficções – revendo certos pontos de seu itinerário como diretor. Assim como em Árido movie, a estrutura de Sangue azul é livre e atapetada por vários personagens. 

Em comum, os dois filmes apontam para o mito do retorno. Em Árido movie, um apresentador de TV, que cuida da meteorologia, volta para assistir ao enterro do pai. Já em Sangue azul, o artista de circo Zolah (Daniel Oliveira), volta à ilha onde nasceu para rever a mãe (Sandra Corveloni) e a irmã (Carolina Abbras), que foram separados quando crianças sob a suspeita de uma ligação incestuosa.

Sangue azul remete tanto às águas azuis do Oceano Atlântico quanto à realeza que não mistura o sangue e se mantém pura eternamente. O sexo, por sinal, é um dos elementos mais constantes do filme. O homem-bala Zolah, Pedro para a família, pega todas as mulheres que aparecem, inclusive mais de uma ao mesmo tempo.

Um dos momentos mais surpreendentes do filme é a transa entre Cangulo (Rômulo Braga) e Inox, o homem mais forte do mundo, interpretado por Milhem Cortaz. Quem viu e não gostou de Praia do futuro, só porque Wagner Moura transava com outro homem, vai ter a mesma reação de ver o tenente Fábio, também de Tropa de elite, ser pego por alguém do mesmo sexo.

Além do drama familiar entre Pedro e sua irmã, Lírio entremeia as cenas com números circenses líricos e engraçados. Um dos grandes destaques é a atriz cubana Laura Ramos, que faz a rumbeira Teorema. Beleza, enfim, é que não falta a Sangue azul. Um dos responsáveis por isso, sem dúvida, é o fotógrafo Mauro Pinheiro Jr. Suas lentes captam toda a magia do circo, da ilha e dos personagens em ebulição que circulam pelo filme. 

Os outros dois filmes que duelaram com os pernambucanos foi Casa grande, de Fellipe Barbosa, e Infância, de Domingos de Oliveira, ambas produções cariocas.

Com uma boa acolhida e exposição em festivais internacionais, desde sua primeira apresentação no Festival de Roterdã, em janeiro, Casa grande surpreende pela maturidade de Fellipe Barbosa, que assina seu primeiro longa de ficção.

Graças a um roteiro sólido e personagens bem construídos, o cineasta faz um certeiro comentário, íntimo e social, sobre a derrocada financeira de uma família rica do Rio de Janeiro, que tem como símbolo uma casa grande, ricamente mobiliada e situada numa aprazível área da capital fluminense.

Fellipe tem como alter ego o adolescente Jean (Thales Cavalcanti), aluno do Colégio São Bento, que aceita apenas meninos ricos. Ele começa a perceber que o pai não consegue mais pagar as contas do dia a dia. Essa situação, inusitada para ele, a mãe e irmã, aponta para uma nova configuração da família, o que inclui também a mudanças de valores sociais, principalmente em relaçâ à classe subalterna. 

O outro filme é a comédia Infância, de Domingos de Oliveira,  que ele adaptou de uma peça escrita por ele mesmo. Trata-se de um relato autiobiográfico em que o veterano cineasta revisita uma tarde de sua infância em um casarão onde morava com os pais e a avó, vivida maravilhosamente por Fernanda Montenegro. No filme, Domingos é o menino Rodriguinho, que vive sob os cuidados de toda a família.

Fernanda está soberba no filme. O texto delicioso e o numeroso elenco sustentaram o interesse do público, que se divertiu bastante. Um cena de cama entre Priscila Rozembaum e Paulo Betti levou o público ao delírio. Certamente, foi o filme mais engraçado de todo o festival. 

O repórter viajou a convite da organização do festival.

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