CINEMA

Paulínia Film Fesival chega ao fim com exibição de Bem-vindo a NovaYork

Filme se inspira em no escândalo envolvendo o francês Dominique Strauss-Kahn

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 27/07/2014 às 14:13
Imovision/Divulgação
Filme se inspira em no escândalo envolvendo o francês Dominique Strauss-Kahn - FOTO: Imovision/Divulgação
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No último Festival de Cannes, uma avalanche de cinebiografias destacaram detalhes das vidas da princesa Grace de Mônaco, do estilista Yves Saint Laurent, do pintor J.M.W. Turner, do ativista político Jimmy Gralton e do milionário John Du Pont. Fora da competição e com pouca menção da imprensa francesa, outro relato biográfico acabou suplantando os que estavam estampadas em cartazes, jornais e revistas por todo o País. Confrontando o mercado e a sociedade francesa, o longa-metragem Bem-vindo a Nova York, que se inspirou no escândalo envolvendo o economista francês Dominique Strauss-Kahn, então diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), provocou um grande redemoinho nas águas calmas do balneário da Côte d´Azur.

Rechaçado pela diretor artístico do Festival de Cannes, Thierry Frémaux, o diretor americano Abel Ferrara e o produtor Vincent Maraval, da Wild Bunch, conseguiram fazer mais barulho do que qualquer outro filme presente nas mostras oficiais. Mais do que confrontar a sociedade francesa, que ainda não digeriu o escândalo em torno do homem que quase se candidatara à presidência do país e fora acusado de agressão sexual a um camareira de um hotel em Nova Iorque, Ferrara e Maraval foram de encontro às rígidas normas das leis cinematográficas francesas. Ao contrário de lançar filmes nos cinemas, diante de um provável boicote das redes exibidoras, eles preferiram explorar o filme por uma plataforma online. Na França, se um longa-metragem é lançado em VOD (video on demand, pela internet ou pela TV a cabo) ou em mídia física (DVD ou blu-ray), ele é impedido de chegar as salas de cinema.

Homenageado no Paulínia Film Festival ao completar 25 anos à frente da Imovision, o empresário francês Jean-Thomas Bernardini trouxe o longa Bem-vindo a Nova York para ser o carro-chefe da programação especial em torno da efeméride. Acompanhando o filme, o cineasta Abel Ferrara e a atriz inglesa Jacqueline Bisset, que interpreta a mulher do personagem George Devereaux (interpretado por Gérard Depardieu), passaram por Paulínia e São Paulo, onde o filme também faz parte de uma mostra no Cinema Reserva Cultura. Na abertura do festival, na noite da última terça(22/7), Ferrara falou da importância que a Imovision teve na produção do filme. "Foi graças a parceiros como Jean-Thomas que conseguimos recursos para realizar Bem-vindo a Nova York", disse ao receber uma medalha.

Apesar de trabalhar sempre com referenciais realistas, num cinema marcado por personagens do submundo nova-iorquino, como gângsteres, policiais e artistas do underground - quase todos pecadores que não procuram necessariamente pela redenção -, Abel Ferrara só agora se inspira em um caso real para contar uma história. Naturalmente, nenhum nome dos envolvidos no caso é citado. Mesmo assim, tanto Dominique Strauss-Kahn quanto a então mulher dele, a jornalista Anne Sinclair, prometeram processar o cineasta. Em Cannes, numa coletiva de imprensa, Ferrara não pareceu preocupado com as ameaças. "Ele faz o que quiser, eu faço o quero", disse referindo-se a Strauss-Kahn.

Independente da aproximação com uma figura pública, o personagem Georges Deveraux é um típico anti-herói da galeria do cinema de Abel Ferrara, ou seja, um homem que se entrega aos seus demônios e vícios sem concessões. No caso, Deveraux é um sátiro que vê o sexo como a sua única morada. Na primeira meia hora de Bem-vindo a Nova York, ele faz sexo com várias prostitutas, além de abordar qualquer mulher a que apareça em sua frente. Uma delas, a qual ela entra em desgraça, é a camareira do hotel que, sem cerimônia, ataca-a sexualmente.

Com uma barriga enorme, o ator Gérard Depardieu se assemelha a um rufião saído de um pintura grotesca de Lucien Freud. A descida aos infernos, após ser preso pela polícia no aeroporto, prestes a sair do País, é filmada por Ferrara como um calvário em que o acusado não parece se dar conta do que crime que cometeu. As cenas filmadas nas delegacias nova-iorquinas são extremamente realistas. No entanto, são superadas pelos diálogos díspares e violentos em que Devereaux e a rica esposa discutem quando ele é levado para uma prisão domiciliar. Tanto Gérard Depardieu quanto Jacqueline Bisset se entregam com energia e profundidade aos seus personagens. Depardieu, por exemplo, gravou uma mensagem em que se declara anarquista e contra os políticos. Ela é apresentada como uma epígrafe de Bem-vindo a Nova York. Sem dúvida, uma petição de princípios jamais vista em filme algum. 

O repórter viajou a convite da organização do festival.

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