“Que eu desorganizando posso me organizar” ou “eu tô te confundindo pra te esclarecer”. O programa A Narrativa Morreu, da competição de curtas internacionais do Janela Internacional de Cinema do Recife, demandou alguma “desconstrução mental” dos espectadores – a exemplo dos versos acima, cantados por Tom Zé e Chico Science. A sessão começou às 15h30, enquanto a competição nacional teve início às 17h. Ambas aconteceram nesta terça-feira (28), no Cinema São Luiz.
O convencional roteiro de cinema foi posto em xeque com os disparates sensíveis apresentados no videoclipe austríaco Eu tube: August canta Habanera, da ópera Carmen, seguido pelo grego Washingtonia. Mas o tilt mental se apresentou de forma mais contundente em face ao frenético Rio-me porque és da aldeia e vieste de burro ao baile, assinado pelos lusitanos Stealing Orchestra & Rafael Dionísio. Foi um curta estadunidense o que mais inquietou a plateia, agora risonha: A escuridão, Krystle, de Michael Robinson, com seus 1001 colapsos e colagens de cenas interpretadas pelas expressivas atrizes da televisão americana Linda Evans e Joan Collins. Depois de percorrer tanta estrada na tela, o curta português Ponto morto se perdeu pelo meio do caminho e fechou a sessão.
A competição de curtas brasileiros, intitulada Eu Sou um Mapa, apresentou os fluminenses O arquipélago e O caso; o paulista Kyoto; o mineiro Sandra espera; e a estreia recifense de História natural, do pernambucano Júlio Cavani. Este – cujas ações eram predominantemente concentradas no centro da tela, devido à escolha do diretor pelo formato widescreen – trouxe à tona a usurpação da natureza pela civilização, ilustrada pelo controverso zoológico Parque Dois Irmãos. A trilha sonora, vencedora do troféu Kikito, atravessou a narrativa com pertinência.
Trailer HISTÓRIA NATURAL from julio cavani on Vimeo.
