CINEMA

Richard Linklater faz sinfonia do tempo em Boyhood - da infância à juventude

Longa-metragem estreia no Recife nesta quinta-feira (11/11)

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 12/11/2014 às 6:00
Universal Pictures/Divulgação
Longa-metragem estreia no Recife nesta quinta-feira (11/11) - FOTO: Universal Pictures/Divulgação
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Matéria-prima do cinema, o tempo é uma preocupação constante na obra de vários cineastas. O francês Alain Resnais deixou sua marca em vários filmes – alguns tão complexos que beiram a abstração, como o indecifrável O ano passado em Marienbad, de 1961. Para o americano Richard Linklater, a principal propriedade do cinema é como ele permite ao diretor usar o tempo como uma forma tanto para contar uma história curta quanto uma longa.

Em seu novo filme, o incontornável Boyhood: da infância à juventude, que estreia nesta quinta-feira (13/11), no Recife, Linklater faz uso do tempo de uma maneira que surpreende o espectador pela eficácia e por colocar num único filme uma ideia que estava no ar há dezenas de anos. Alguns, como o francês François Truffaut, contaram em cinco filmes – quatro longas e um média-metragem – a história da infância à vida adulta do personagem Antoine Doinel (de Os incompreendidos, em 1959, até O amor em fuga, em 1979).

Em Boyhood, Linklater vai mais além: ele passou 12 anos para concluir a história da formação de um adolescente, desde que ele entra na escola, aos 5 anos, até terminar o ensino médio e chegar na universidade, aos 18 anos. O espectador assiste estupefato o tempo passar diante de seus olhos e vê, a cada 20 minutos e durante quase três horas, a transformação física, psicológica e de caráter de Mason (Ellar Coltrane).

Durante todos esses anos, enquanto desenvolvia outros filmes, inclusive fora dos Estados Unidos, Linklater voltava ao Texas para filmar uma pequena fração de tempo da vida de Mason, de sua irmã Samantha (Lorelei Linklater, filha do cineasta), da mãe Olivia (Patricia Arquette) e do pai Mason Sr. (Ethan Hawke). Na tela, o resultado é espetacular: uma sinfonia ininterrupta de pequenos e grandes momentos da vida do personagem, seus parentes, amigos e namoradas – quase como se assistíssemos a um documentário sobre a vida real dessas pessoas.

Mas, diferente de tudo o que você já viu, Boyhood não utiliza técnicas do cinema documentário – uma dinâmica presente em cinematografias de todo o mundo. Um pouco antes de iniciar Boyhood e durante sua filmagem, Linklater pôs em marcha uma experiência com o tempo completamente inversa a de seu filme mais recente. Entre 1995 e 2013, ele acompanhou 18 anos da vida de um casal na trilogia formanda por Antes do amanhecer, Antes do pôr do sol e Antes da meia-noite.

Ao contrário de expandir o tempo, Linklater mostra apenas cerca de 12 de horas da vida do casal em cada filme. Certamente por isso, o tom de Boyhood e da trilogia são tão diferentes. Enquanto apenas algumas nuanças do cotidiano de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) chegam ao espectador, acompanhar a vida de Mason é como se o personagem se transformasse em alguém que conhecemos e nos importamos.

Com domínio completo dos meios expressivos do cinema e longe das convenções da linguagem televisa, Linklater fez de Boyhood um dos filmes mais inteligentes e sensíveis do ano. Imperdível. 

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