Atriz

Morre Odete Lara, musa do cinema novo

Artista, que marcou toda uma geração com seu ar enigmático e despudor, tinha 85 anos e viva reclusa nas montanhas do Rio de Janeiro

Marcos Toledo
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Marcos Toledo
Publicado em 04/02/2015 às 12:38
Affonso Beato/Divulgação
Artista, que marcou toda uma geração com seu ar enigmático e despudor, tinha 85 anos e viva reclusa nas montanhas do Rio de Janeiro - FOTO: Affonso Beato/Divulgação
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Morreu no Rio de Janeiro, aos 85 anos, a atriz Odete Lara, segundo divulgou na manhã desta quarta-feira (4/2) o canal de TV por assinatura GloboNews. A causa da morte não foi informada.

Musa do cinema novo, Odete trabalhou em dezenas de filmes, além de lançar um disco com músicas de Vinicius de Moraes e três livros autobiográficos.

Filha de imigrantes italianos, a atriz nasceu em São Paulo, em 1929, como Odete Righ, herdando o sobrenome da mãe, devido ao fato de seu pai já ser casado.

Quando começou a carreira de atriz, num comercial na então recém-inaugurada TV Tupi, chamou a atenção por se recusar a sorrir, uma atitude nada comum para alguém tentando vender um produto.

O ar enigmático e sua beleza falaram mais alto e essa musa incomum virou atriz da TV Tupi encarnando a rainha má da Branca de Neve. Participou de telenovelas e foi estrela de um famoso programa de adaptação de clássicos da literatura, um marco no início da TV.

Odete também foi modelo participando do primeiro desfile da moda brasileira, realizado no Museu de Artes Moderna de São Paulo (Masp), em 1951, e cantora de shows como Skindô, ao lado de Vinicius de Morais, e Meu refrão, com Chico de Buarque.

Também foi escritora, tendo publicado três livros autobiográficos, Eu nNua, Minha jornada interior e Meus passos na busca da paz, além de haver traduzido várias obras do budismo.

Foi também atriz de teatro, iniciando no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), mas dizia não gostar do teatro por não suportar sua timidez. Estreou nos palcos com Santa Marta Febril S/A, contracenando com Walmor Chagas.

Se no teatro Odete não se dava, nos cinemas ela se destacou. Fez 32 filmes entre 1956 e 1979. Estreou ao lado de Mazzaropi até se tornar musa do cinema novo, com destaque para o polêmico Noite vazia (1964), de Walter Hugo Khouri, e o premiado O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), de Glauber Rocha.

Foi casada com o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho e com o diretor de cinema Antônio Carlos Fontoura. Teve casos com o novelista Euclydes Marinho, o maestro Tom Jobim e o ator Paulo Autran. Não teve filhos. De acordo com sua autobiografia, engravidou virgem. Queria abortar pela barriga para não perder a virgindade. Ao longo da vida fez mais quatro abortos.

Odete foi premiada no Festival de Gramado por sua contribuição ao desenvolvimento do cinema brasileiro e ganhou o prêmio APCA em 1975 pelo conjunto da obra.

Ela estava no auge da carreira cinematográfica quando decidiu abandoná-la protagonizando o movimento que sentiu ser vitima durante sua vida. Exilou-se em Nova Friburgo, onde passou a se dedicar ao budismo, ocupando seu tempo com meditação, ioga, leituras, tradução de livros e escrita. Seu último longa-metragem, em 1979, foi O principio do prazer.

A bela que marcou toda uma geração com seu ar enigmático e despudor passou seus últimos dias nas montanhas do Rio de Janeiro em busca de paz.

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