Cinema de sentimentos

Paulo Caldas filma Saudade em Berlim

O diretor aproveita ida à Berlinale para gravar trechos de documentário

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 11/02/2015 às 5:13
Bárbara Cunha/Divulgação
O diretor aproveita ida à Berlinale para gravar trechos de documentário - FOTO: Bárbara Cunha/Divulgação
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Dizem que deles, os portugueses, herdamos, além da palavra saudade, o sentimento: a dor maior, aquela parceria da melancolia, o vazio que maltrata. “Eu amo tudo o que foi/Tudo o que já não é”, afirmam os versos do poema chamado justamente de Saudade por Fernando Pessoa, o grandioso. Também chama-se Saudade o longa-metragem documental que o diretor Paulo Caldas grava estes dias em Berlim.

Na capital alemã desde o início do mês, viagem provocada pela Berlinale, Paulo aproveitou o festival de cinema para incluir mais um país em seu Saudade. “A escolha das cidades se deu pela língua, todas são colônias portuguesas – para desvendar a etimologia da palavra intraduzível”, explica. “Mas Berlim foi uma oportunidade que surgiu. Estar aqui, onde a palavra saudade inexiste, foi uma instigação de Bárbara Cunha, assistente de direção e produtora, de aproveitar a ocasião e aprofundar a pesquisa. E aqui entrevistamos brasileiros e pessoas lusófonas”, revela Paulo.

Lisboa (Portugal), Maputo (Moçambique), Luanda (Angola), Goa (Índia) e o Timor Leste fazem parte do roteiro das filmagens. No Brasil, as gravações passam pelo Recife, Rio de Janeiro e por São Paulo. 

“O tema vem sendo uma constante em minha vida, mediante a perda de grandes amigos e parceiros profissionais, dois irmãos de vida: Paulo Jacinto, o Feijão, fotógrafo de meus filmes desde O baile perfumado, e Germaninho Coelho Filho. Pessoas que amo, que deixaram imensa lacuna em minha vida”, confessa o diretor.

Mais do que a ausência e “o pior tormento”, o tema da saudade atiça a discussão sobre o poder imperioso do tempo, inquietando Paulo. “A própria condição de cineasta investigativo e viajante, que me acompanha, a noção da nossa finitude, vendo meus pais cada dia mais idosos e meus filhos, lindos e incríveis, crescendo numa velocidade que não consigo acompanhar.” E sentencia: “Saudade é olhar para fora do presente. Gostaria de aprisionar esse fragmento de tempo no audiovisual, mesmo que, com o tempo, tudo se dilua, como num filme de 35 mm”.

O diretor quer transformar também o longa documental em série para a TV. Ele descreve o trabalho como “documentário-poético-investigativo buscando o significado da palavra e do sentimento da saudade em nossa língua e em nossas vidas. Levados pelo mar, pelo plano histórico, pela poesia, pela música, pelos usos cotidianos e pelas aparições expressivas da palavra”.

Para ajudá-lo a falar de saudade, Paulo escalou seu time: “São amigos e pessoas que admiro e respeito profundamente: Arnaldo Antunes, Otto, Zé Celso Martinez Corrêa, Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Xico Sá, Lírio Ferreira, João Câmara, Sílvio Tendler, entre (muitos) outros”.

O filme, coproduzido pela Ateliê Produções (PE) e pela Academia de Filmes (SP), deve estar finalizado até o fim deste ano e tem previsão de lançamento para 2016.

SERTÃO

A viagem à Alemanha serviu também para que Paulo Caldas se reunisse com coprodutores alemães e portugueses do longa-metragem O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. O filme deve ser rodado ainda este ano e promove um encontro imaginário, em 1942, entre o cangaço e o nazismo, no Litoral do Nordeste.

A produção reúne a 99 Produções (PE), a República Pureza (RJ), a CineZebra (Alemanha) e a Fado Filmes (Portugal).

“Já captamos grande parte da verba para filmar ainda em 2015. Estamos em pré-produção, escolhendo elenco e locações”, conta a produtora Bárbara Cunha.

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