CRÍTICA

Longa-metragem 118 dias conta calvário de jornalista iraniano

Filme estreia em circuito nacional nesta quinta-feira (05/03)

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 04/03/2015 às 6:00
Diamond Pictures/Divulgação
Filme estreia em circuito nacional nesta quinta-feira (05/03) - FOTO: Diamond Pictures/Divulgação
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Todos os anos, o Comitê de Proteção aos Jornalistas, uma ONG com sede em Nova Iorque, contabiliza o número de jornalistas que morrem no dever do ofício. Em 2014, 60 profissionais da imprensa perderam a vida – a metade em países do Oriente Médio. Quantidade menor que a de 2013, quando 70 jornalistas foram assassinados ao redor do mundo.

Por muito pouco o nome do jornalista iraniano Maziar Bahari, que passou quatro meses preso no Irã, não fez parte dessa estatística. A história dele é contada no longa-metragem 118 dias, que estreia nesta quinta-feira (05/03) em circuito nacional. No filme, ele é interpretado pelo ator mexicano Gael García Bernal, mundialmente conhecido depois de interpretar um Che Guevara jovem em Diários de motocicleta, do brasileiro Walter Salles.

Em 2009, Bahari saiu de Londres – onde vivia com a mulher, então grávida –, para cobrir a campanha presidencial do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que tentava o segundo mandato. Durante o trabalho, Bahari testemunhou manifestações populares contra Ahmadinejad e enviou imagens que seriam veiculadas na TV americana. Por causa disso, ele foi preso sob a acusação de espionagem.

Realizado por uma produtora independente, 118 dias foi feito com recursos modestos para os padrões hollywoodianos. No entanto, o que perde em escala ganha em honestidade. A existência do filme, por exemplo, nasceu do desejo pessoal de Jon Stewart, o âncora do programa Daily Show, que exibiu as imagens de Bahari e o entrevistou logo depois de libertado.

Apesar de presente em vários filmes, ora como ator, ora como ele mesmo, esta é a primeira vez que Stewart, de 53 anos, escreve um roteiro e dirige um longa-metragem. Ao contrário do que poderia ter acontecido, ele saiu-se melhor do que a encomenda. Geralmente, histórias como essas servem mais para demonizar os algozes – o que, em se tratando do Irã, seria muito fácil. 

Afortunadamente, Stewart não fez um filme sobre o ponto de vista da política americana. A situação do Irã atual, por exemplo, está presente com toda força nos interrogatórios e nas sessões de tortura sofridas por Bahari. Com os olhos vendados, ele é interrogado por Javadi (Kim Bodnia), um policial que parece um robô. Numa pausa dos espancamentos, Bahari conta uma história sobre massagens que deixa o homem parecendo uma criança.

O que está em primeiro plano, porém, é a herança familiar do jornalista. Além da mãe, que ainda mora no Irã, seus questionamentos voltam-se para o pai e a irmã, já mortos, que lutaram contra os governos ditatoriais do país.

Na solidão do cárcere, ele conversa com o pai, um comunista que sofreu nas mãos do Xá Reza Pahlevi. Em flashbacks, relembra a irmã, que também foi presa e, aparentemente (não fica muito claro) morta durante o governo dos aiatolás. O retrato humano de Bahari e a luta de sua família, ao final, dão a 118 dias o seu verdadeiro valor. Embora previsível dramaticamente, vale ressaltar suas qualidade técnicas, principalmente nas sequências de sobreposição de imagens.

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