ENTREVISTA

Diretor John Madden fala sobre O exótico Hotel Marigold 2

Longa é a atração de abertura do festival CinePE 2015

Flávia de Gusmão
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Flávia de Gusmão
Publicado em 02/05/2015 às 7:59
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Longa é a atração de abertura do festival CinePE 2015 - FOTO: Divulgação
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Quando estreou, em 2012, a primeira versão do filme O exótico Hotel Marigold (The best exotic Marigold Hotel), dirigido por John Madden, pegou todos os envolvidos no projeto meio que de surpresa. Uma larga audência, que proporcionou um apurado global de 136 milhões de dólares, foi irremediavelmente atraída por uma história singela, envolvendo personagens idosos que buscam sossego na sua condição de aposentados em um decadente hotel na Índia.

Nessa jornada que supostamente seria o "início do fim", eles, cada um à sua maneira, se redescobrem e reinventam ao entrecruzarem suas histórias de vida no exótico cenário de um país cuja cultura vivaz não permite indiferença. A Índia, seu povo, cheiros, rituais, religião e, principalmente, a estética que deu origem a Bollywood (os feéricos musicais que são uma paixão nacional), assim como o próprio hotel, são personagens coadjuvantes com status de protagonistas.

A segunda versão, que será exibida hoje, no Cine São Luiz, durante a abertura do Festival Cine PE, com a presença do diretor, retoma a narrativa de onde ela parou, com um plus: o jovem empresário Sonny Kapoor (Dev Patel), que recebeu ajuda de seus hóspedes estrangeiros na tarefa de transformar o primeiro Marigold em um oásis dedicado aos "idosos & belos", inflama-se de ímpeto expansionista para abrir uma franquia do bem-sucedido empreendimento e corre atrás do dinheiro necessário para o investimento.

Ele segue contando com o apoio e entusiasmo irrestritos dos clientes, que terminaram por virar residentes, e a eles ainda se juntam novos personagens. Na subtrama aparece o casamento iminente de Sonny Kapoor com sua amada Sunaina (Tina Desai), adicionando tensão extra e abrindo a janela perfeita para introduzir as adoráveis coreografias sem as quais Bollywood não se definiria como tal.

Ao ser questionado se a inserção de referências extremamente particulares, praticamente restritas  ao gosto dos espectadores do país onde se desenrola a história, teria sido uma forma de cooptar a gigantesca massa de pessoas que potencialmente pagariam para ver o filme rodado em sua terra natal, Madden responde com um dado surpreendente: "Nossa bilheteria na Índia não conseguiu superar nenhuma das produções da indústria local", disse. E explica: "Possivelmente porque eles são extremamente protecionistas, zelosos e afinados em relação ao que produzem", supõe.

Para o diretor, o sucesso de Hotel Marigold deve-se ao fato de, simplesmente, ele ser "um filme que faz com que as pessoas se sintam bem". Mas descarta a possibilidade de existir uma fórmula para que isso aconteça: "Não é assim, você quer fazer um filme com esse teor e, pronto, faz. É preciso uma química certa entre atores, personagens, discurso e trama", pontua. E é inteiramente sobre esses pilares que as duas versões de Hotel Marigold se escoram.

O elenco foi escolhido a dedo entre atrizes magistrais do cinema britânico. Na proa, duas grandes damas da arte dramática. Maggie Smith, que muitos associarão imediatamente à matriarca sem papas na língua da série Downton Abbey, e Judi Dench (007 e Notas sobre um escândalo) terçam seus poderes cômicos e dramáticos sem deixar cair uma gota fora da medida indicada. A primeira, vivendo Muriel Donnely, torna-se uma espécie de mentora do jovem Sonny Kapoor em seus negócios e a segunda, na pele de Evelyn Greenslade, é uma viúva que descobre um insuspeitado talento para a moda e o comércio, enquanto se esquiva de um romance outonal com um dos hóspedes permanentes do Marigold, Douglas, vivido por Bill Nighy.

Ainda na cota dos que vêm da primeira versão, Celia Imrie retorna no papel de Madge Hardcastle, uma senhora coquete que não consegue decidir sobre qual pretendente escolher; Ronald Pickup continua seu périplo como Norman Cousins, o coroa pegador que finalmente se apaixona por Carol Parr (Diana Hardcastle). Nos acréscimos para a segunda versão, o destaque é Richard Gere, que surge como Guy Chambers, uma figura decisiva no projeto do jovem empresário Sonny Kapoor e sedutor nas horas vagas.

John Madden está coberto de razão quando afirma ser este mosaico humano o elemento mais cativante dos seus filmes. A trama se sustenta por um fio levíssimo, algumas vezes emaranhado demais, mas consegue, ao longo da história, provocar algumas reflexões que insistem em perseguir o espectador depois que tudo acaba. E isso é muito bom. Somos projetados pelos dramas pessoais de cada um dos integrantes a um estado de conforto temperado por afeto e bom humor ao lidar com uma questão tão temida quanto a finitude: a vida que transcorre em seu prazo final, os sonhos que ficaram para trás, sentimentos como paixão e amor que julgávamos encerrados.

 "Eu acredito que o filme trata sobre família. Não a família convencional, mas aquela que adotamos como nossa, e nesse processo exercitamos a assimilação da diferença. É uma história divertida, mas toca fundo em outros aspectos também, pois os personagens são obrigados a confrontar suas escolhas à uma altura já bem tarde na vida. E isso sempre proporciona um quadro muito rico", resume.

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