As sessões do fim de semana do Cine Ceará confirmaram o que era uma suposição: a alta qualidade da seleção da Mostra Competitiva IberoAmericana de LongaMetragem é a marca registrada da edição comemorativa dos 25 anos do festival. Na noite do último sábado (19/6), o majestoso Cinema São Luiz, na Praça do Ferreira, Centro de Fortaleza, ficou lotado com as exibições do brasileiro Real Beleza, de Jorge Furtado, e do cubano A Obra do Século, de Carlos M. Quintela.
Único filme brasileiro de ficção entre os nove da mostra competitiva, Real Beleza é uma tentativa do cineasta gaúcho de diversificar seu talento de contador de histórias. Exímio roteirista, Jorge Furtado deixa a comédia de lado para se aventurar por uma história de amor madura, um drama intimista sobre encontros e despedidas, partidas e recomeços, juventude e velhice.
Filmado em cinemascope em grande parte na Serra Gaúcha, o filme é tocado pela ideia da beleza. Na história, o fotógrafo João (Vladimir Brichta) resolve se embrenhar no interior do Rio Grande do Sul para descobrir uma jovem modelo e levála às passarelas do mundo. Entre dezenas de adolescentes, ele elege Maria (a Miss Mundo Vitória Strada, considerada uma sósia de Catherine Zeta-Jones), que topa assinar um contrato.
Apesar de ser um tema interessante, a procura por essa beleza jovem, que pode dar lucro ao fotógrafo, não é o foco principal do filme. O que João realmente procura será revelado quando ele conhece Anita (Adriana Esteves), mãe de Maria e mulher de Pedro (Francisco Cuoco), um homem idoso e cego, que não está nem um pouco interessado em deixar a filha ir embora. "O que me levou a fazer o filme é que desde sempre acreditamos que a beleza vai salvar o mundo", destacou o cineasta, durante uma coletiva de imprensa na manhã de ontem.
Já no longa cubano A Obra do Século, os personagens parecem não acreditar em mais nada. E o que sobrou foi apenas o peculiar humor dos moradores da ilha, que se divertem em rir de suas próprias tragédias. Vencedor do prêmio Tiger, no último Festival de Roterdã, na Holanda, o filme não poupa nem o governo nem os próprios cubanos ao resgatar a história da Cidade ElectroNuclear (CEN), que Fidel Castro e os aliados soviéticos tentaram construir no começo dos anos 1980, na província de Cienfuegos.
Com o acidente radioativo de Chernobyl e a derrocada da União Soviética, o projeto foi por água abaixo, deixando centenas de funcionários entre engenheiros e cientistas, que estudaram em Moscou sem ter o que fazer. É o que acontece com as três gerações de uma família um avô, um pai e um filho que não consegue sair desse lugar onde nada acontece. O veterano ator Mario Balmaseda, que faz o avô, praticamente rouba o filme com seu mau humor e suas frases inconvenientes, mordazes e cortantes como uma navalha.
O repórter viajou a convite do Cine Ceará.