O Exterminador do Futuro: Gênesis, que estreia nesta quinta-feira (2/7) em circuito nacional, é um filme que permite várias leituras. Pode ser visto, por exemplo, como a prova de que Hollywood se rendeu à falta de criatividade representada por um sem número de continuações e refilmagens. Mas pode ser, também, uma homenagem ao cinema de ação da década de 1980, quando o gênero reinou absoluto e Arnold Schwarzenegger era um dos seus mais importantes ícones. Talvez seja a mistura do melhor de dois mundos, quem sabe.
Tanto é assim que, logo no início do filme, temos dois Schwarzeneggers se enfrentando numa luta titânica, ferrenha e barulhenta em que o som de seus corpos metálicos reverberam para além do tempo e do espaço. Afinal, estão ali, frente a frente, a versão velha "não obsoleta", como o personagem repete mais de uma vez e nova do robô que veio do futuro para matar Sarah Connor, a mãe de John Connor, o homem escolhido para salvar a humanidade na luta contra as máquinas.
Com essa ligação direta com O Exterminador do Futuro, realizado por James Cameron, em 1984, o filme dirigido por Alan Taylor (Thor: O Mundo Sombrio), foi feito para não deixar que novos e velhos fãs da franquia ficassem insatisfeitos. Não dá para esquecer que os quatro longasmetragens da franquia renderam até hoje a espetacular quantia de U$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 4,3 bilhões).
A partir dessa premissa, o que vemos em O Exterminador do Futuro: Gênesis é uma tentativa muito louca dos roteiristas Laeta Kalogridis e Patrick Lussier em fazer com que a timeline da luta entre humanos e máquinas, que vai e volta no tempo, não dê um nó na cabeça dos espectadores. Com algumas referências de O Exterminador do Futuro: A Rebelião das Máquinas (2003) e de O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009), a nova história segue a mesma linha do que aconteceu entre 1984 e 2017, um período que engloba as tramas dos longas de James Cameron (O Exterminador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, de 1997) e a do novo filme.
No futuro, no ano 2029, com as máquinas prestes a dominar o mundo, John Connor (Jason Clarke, de Planeta dos Macacos: O Confronto) utiliza a máquina do tempo da Skynet para enviar o soldado Kyle Reese (Jai Courtney, da série Divergente) de volta a 1984. Ele irá proteger Sarah Connor (Emilia Clarke, do seriado Game of Thrones) do robô que foi mandado antes, que tem a missão de matála e, consequentemente, impedir o nascimento de John.
Kyle Reese e o Terminator (Schwarzenegger, refeito em computador para se parecer com o robô do primeiro filme da franquia) chegam em 1984, mas a realidade é outra. Sarah, ao contrário do que se esperava, tem como guardiã um exterminador que a acompanha desde 1973, que ela chama de "Papi" e vem a ser a versão atual de Schwarzenegger, aos 67 anos. Depois, eles são obrigados a pular para 2017, quando uma nova empresa, um embrião da Skynet, preparase para iniciar um sistema operacional que irá conectar todos os seres humanos, inclusive com os computadores das forças armadas.
Para complicar ainda mais a trama, de repente, John Connor aparece do futuro, só que numa versão ainda mais complexa e indestrutível do exterminador. Apesar da trama seguir sempre em frente e com inúmeras cenas de ação, algumas espetaculares, como a que acontece numa ponte em São Francisco e termina com um ônibus pendurado, O Exterminador do Futuro: Gênesis não se apoia muito em lógica para embasar sua história. Quando os fatos ficam obscuros, o exterminadorguardião explica o que aconteceu quando os outros personagens ainda não eram nascidos.
Nessa confusão em que o filme se transforma, o principal expediente dos roteiristas é proporcionar algumas cenas engraçadas com o robô velho interpretado por Schwarzenegger, que tem uma certa propensão à autoparódia. Para entrar no clima, Emilia Clarke faz de Sarah Connor uma adolescente graciosa e esperançosa, o que permite que a trama respire um pouco e não se repita tanto. De certa maneira, O Exterminador do Futuro: Gênesis exige que o espectador se comporte como se estivesse jogando um game em que é obrigado a vencer várias fases até zerar a história. Como a tarefa é um tanto cansativa pelo menos para os espectadores mais velhos , é um alívio quando o filme termina.