CINEMA

Eddie Redmayne é ofuscado em A Garota Dinamarquesa

Em filme baseado na história de Lili Elbe, primeira transexual da história, ator empalidece diante de Alicia Vikander

Mari Frazão
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Mari Frazão
Publicado em 11/02/2016 às 9:45
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Em filme baseado na história de Lili Elbe, primeira transexual da história, ator empalidece diante de Alicia Vikander - FOTO: Divulgação
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A Garota Dinamarquesa, novo filme de Tom Hooper (Os Miseráveis e O Discurso do Rei), estreia no Brasil em um momento oportuno e necessário: menos de um mês depois do Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado em 29 de janeiro, e em plena ressaca do Carnaval, quando até machistas se transvestem de mulher para comemorar a festa momesca. Em um país que, segundo pesquisa da organização não-governamental Transgender Europre (TGEU), matou cerca de 604 travestis e transexuais em seis anos, o debate abraçado pela cultura pop é fundamental. Os questionamentos e inseguranças que perambulam por almas encarceradas em corpos que não lhes pertencem ainda são tabu, mas é reconfortante ver o tema hasteado em séries e filmes populares, como em Orange is The New Black, da Netflix. Entretanto, mesmo sustentado por um mote tão crucial como a história de Lili Elbe, primeira transexual a passar por uma cirurgia de redesignação de gênero, A Garota Dinamarquesa não se aprofunda no tema.

Ambientada em uma Dinamarca cinzenta na década de 1920, a película apresenta Einer Wegener (Eddie Redmayne), um pintor bem-sucedido, casado com a intensa e também talentosa Gerda (Alicia Vikander). Entrelaçados por um companheirismo ainda mais fundamental que o amor, é nesta permuta de afeto, que arrebata o expectador, que Gerda permite a Lili emergir em Einer. Enquanto acompanhamos jornada de Lili, que tenta se descobrir em um corpo que não é o seu, em uma época em que pessoas transgêneras eram internadas como enfermos, Gerda oferece todo o seu apoio enquanto precisa sustentar a ausência, a perda, a culpa, a casa e ainda estabelecer uma carreira.

ALICIA VIKANDER

Alicia, erroneamente indicada ao Oscar apenas como Atriz Coadjuvante, é a veia mais vigorosa e dona da interpretação mais dilacerante do longa. Ganhador do Oscar no ano passado por uma performance surpreendente em A Teoria de Tudo, Redmayne constrói Lili em uma atuação primorosa, mas que acaba ofuscada por uma Vikander lancinante. Se nos trailers de divulgação Lili parecia ser a estrela absoluta do filme, em tela o sofrimento de Gerda rouba os holofotes e se revela muito mais envolvente. Ironicamente, Einar é dono de uma carreira artística consagrada enquanto sua esposa luta para obter visibilidade e reconhecimento por seus retratos; com as atuações, porém, passa-se o inverso, e a intérprete rouba a cena enquanto seu parceiro agoniza.

Pelas sensitivas lentes do diretor de fotografia Danny Cohen – que assina também a fotografia de outro indicado ao Oscar, O Quarto de Jack –, é possível sentir na carne a angústia de Lili. Porém, enquanto o trailer deixava entrever uma história sobre os dilemas da transexualidade, o alicerce da trama é a devoção do casal, em um filme sobre cumplicidade, renúncia, generosidade e libertação.

Veja o trailer: 

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