Para o cinesta pernambucano Gabriel Mascaro, é clara a retaliação política ao filme do também diretor e amigo Kleber Mendonça Filho. O diretor de Boi Neon (2015) decidiu deixar de fora seuo longa do processo seletivo para indicação ao Oscar. “Não me sinto confortável em participar de um processo seletivo de interesse público que tem demonstrado imparcialidade questionável”, disse.
Mascaro tomou a decisão depois que, ontem, o Ministério da Justiça publicou uma decisão polêmica de classificar Aquarius com indicação de 18 anos para a censura. A distribuidora do filme entrou com recurso, alegando que outros filmes com cenas mais fortes de sexo e uso de drogas, receberam classificação de 16 anos. O recurso foi negado.
Mas a origem da decisão de Mascaro está no fato de que um dos membros da comissão de análise dos filmes brasileiros ao Oscar, o crítico paulistano Marcos Petrucelli, tem se manifestado publicamente, através das redes sociais, contra o filme de Kleber Mendonça Filho. Cotado para ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano, Aquarius é tido como candidato natural ao Oscar - tanto de filme estrabgeiro, como pela atuação de Sônia Braga no papel da protagonista Clara - uma jornalista aposentada que se posiciona contra a especulação imobiliária do Recife.
No festival francês, o elenco do filme, ao lado do diretor, ganhou repercussão da imprensa mundial ao segurar cartazes de “Fora Temer” no tapete vermelho de Cannes com o intuito de denunciar o suposto golge através do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Roussef. Petrucelli, depois disso, tem criticado abertamente o posicionamento político da equipe e atacado o filme, questionando sua qualidade.
Com prêmios nos festivais de Veneza, Itália, Toronto e Canadá, Boi Neon foi o grande vencedor do último Festival do Rio. Assim como Aquarius, tem status de possível indicado ao Oscar. Ou, pelo menos, tinha, antes de seu diretor desistir da seleção.
Abaixo, o comunicado oficial da produção de Boi Neon:
BOI NEON – SELEÇÃO BRASILEIRA AO OSCAR 2017
Decidimos tornar pública a nossa decisão de não submeter o filme BOI NEON à comissão brasileira que indica o representante nacional ao OSCAR 2017. É lamentável que o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, endosse na comissão de seleção um membro que se comportou de forma irresponsável e pouco profissional ao fazer declarações, sem apresentação de provas, contra a equipe do filme Aquarius, após o seu protesto no tapete vermelho de Cannes. Aquarius foi o único filme latino-americano na competição oficial de Cannes,tendo sido aclamado pela crítica internacional. Diante da gravidade da situação e contrários à criação de precedentes desta ordem, registramos nosso desconforto em participar de um processo seletivo de imparcialidade questionável.
