VELHO OESTE

Refilmagem de Sete Homens e um Destino convive com sombra de clássicos

Antecedido por Os Sete Samurais e pelo faroeste homônimo, a obra estreia nos cinemas nesta semana

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 21/09/2016 às 6:07
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Antecedido por Os Sete Samurais e pelo faroeste homônimo, a obra estreia nos cinemas nesta semana - FOTO: Divulgação
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Poucos gêneros cinematográficos contam com um universo de personagens tão engessado como o faroeste. É uma estrutura quase infalível em sua narrativa, mas que é pontuada, com mais ou menos brilhantismo, por tipos como o homem virtuoso (e, muitas vezes, solitário) ou o herói caído, a mulher que precisa de socorro, o vilão ou bando que aterroriza uma cidade, a visão estereotipada de quem é de fora dali – orientais ou indígenas –, o papel secundário de personagens negros. Em tempos em que a representação, com toda justiça, está a todo momento sendo debatida, criar um western que abrace sem hesitação os próprios hábitos de antigamente seria um gesto até preguiçoso.

Apesar de se tratar de uma refilmagem – sintoma por si só da acomodação que vive Hollywood –, a nova versão de Sete Homens e um Destino, dirigida pelo americano Antoine Fuqua, dá vários indícios que busca ir além dos clichês de que lança mão. A primeira versão americana do filme, com título homônimo, foi lançada em 1960 e, desde então, ganhou os justos ares de clássico do Velho Oeste. Um feito, afinal, quando se nota que ela já era inspirada em uma obra-prima, Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, que chegou aos cinemas seis anos antes.

As tramas partem do mesmo ponto, claro, com as devidas alterações. São homens, honrados ou não, que atendem ao apelo de uma vila para ser defendida de um grupo de bandidos, numa missão quase suicida. Na sua nova versão, o clima de superprodução é explícito já no elenco, encabeçado por Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke, Vincent D’Onofrio e Peter Sarsgaard, entre outros. Só essa constelação de atores de diferentes campos é suficiente para que o filme seja, também, um pretexto para um desfile de astros.

Emma Cullen (Haley Bennett) vê seu marido ser morto pelos capangas do empresário corrupto Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard). Com sua cidade tomada pelos bandidos – que, no tom crítico contemporâneo, têm a licença do governo para explorarem a mina de ouro da cidade –, ela se vê em busca de vingança. A viúva encontra, então, o pistoleiro e caçador de recompensas Sam Chisolm (Denzel) e oferece a ele dinheiro – como ele diz, a quantia mais simbólica possível, “tudo o que eles têm” – para ajudar a livrar a cidade de Bogue, figura tão cruel quanto um vilão pode ser.

Chisolm vai juntando velhos colegas e homens hábeis que cruzam seu caminho, como o beberrão Josh Farraday (vivido pelo eficiente galã e bobalhão oficial de Hollywood, Chris Pratt). Assim, os sete citados no título vão de encontro ao seu destino que parece inevitável: morrer enfrentando um batalhão de mercenários.

REINVENTADO

A refilmagem tensiona alguns elementos dos faroestes tradicionais. A mocinha não é tão indefesa assim – é uma mulher que quer vingança e faz questão de estar próxima do planejamento e defesa da vila. Os companheiros não são, como antes, apenas homens brancos americanos. Seu líder é um negro que age em nome de vários estados dos EUA, e entre seus companheiros estão o oriental Billy Rocks (Byung-Hun Lee) e o guerreiro comanche Red Harvest (Martin Sensmeier) – é uma forma de recriar de forma mais rica o verdadeiro panorama histórico do Velho Oeste, como já disse Fuqua.

Para trabalhar com esse casting, o diretor cria um filme que utiliza constantes momentos de humor para se sustentar. Claro, esse novo Sete Homens e um Destino tem suas boas cenas de tensão e de combate, mas é um faroeste que recorre o tempo todo à irreverência, sustentada por bons atores – a opção esvazia a obra quando ela é colocada lado a lado das suas antecessoras. Apesar de ter um elenco singular, o filme constrói esses personagens através dos estereótipos – Red Harvest, por exemplo, é o pacote completo do imaginário do indígena como bárbaro que se alimenta do coração cru de um animal. Além disso, mesmo que o filme crie uma personagem feminina relativamente forte dentro do universo do faroeste – ela não chega a ser a Mattie de Bravura Indômita–, a sua câmera vê Emma quase sempre com um olhar mais sexualizado do que o necessário.

Para uma audiência que conhece pouco da tradição dos westerns, o filme pode até funcionar como uma boa aventura, uma homenagem bem-humorada. Falta densidade, especialmente nas suas tomadas feijão com arroz e na construção dos seus personagens, para ser o que o seu DNA permitiria: um épico inesquecível sobre a honra.

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