CINEMA

O novo sertão de Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos

Documentário de Sergio Oliveira estreia no Festival do Rio

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 12/10/2016 às 15:13
Aroma Filmes/Divulgação
Documentário de Sergio Oliveira estreia no Festival do Rio - FOTO: Aroma Filmes/Divulgação
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O cineasta pernambucano Sergio Oliveira, natural de Caruaru, está no Rio hoje e amanhã para acompanhar as exibições do seu mais novo filme, o documentário Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos, que concorre ao troféu Redentor da Mostra Première Brasil, do Festival do Rio. A Serpente, do olindense Jura Capela, está competindo na Mostra Novos Rumos – Longa-Metragem. O cinema pernambucano, para quem não lembra, não tem dado moleza: desde 2012 já ganhou o Redentor três vezes (O Som ao Redor, em 2013; Sangue Azul, em 2014; e Boi Neon, no ano passado).

Conhecido pela parceria com a diretora de arte e cineasta Renata Pinheiro, sua companheira, Sergio assina pela primeira vez um longa-metragem solo. O documentário Estradeiros, de 2012, e a ficção Açúcar, em fase de finalização, foram feitos em dupla. Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos, como todos os filmes deles, são trabalhos bastante pessoais, flertam com o experimental, mas nunca são arredios à fruição dos espectadores. Envolvido com o filme desde 2012, o cineasta contou que a proposta inicial do documentário mudou assim que ele começo a pesquisa.

“A ideia nasceu quando eu estava numa fazenda de um amigo, em Arcoverde. Tinha duas pessoas tocando lá e, por acaso, uma delas era filho do criador da Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos. Eu fiquei fascinado com a história da orquestra, que tem esse nome lindo: Super Oara. Comecei a pesquisar e fiz um projeto, mas já ali vi que era algo maior, quando comecei a pensar no roteiro ao lado de Leo Pyrata e Renata Pinheiro. Eu não estava mais a fim de fazer um filme só sobre a orquestra. Queria a orquestra e o Sertão contemporâneo, com uma grande presença de animais na estrada, muitas carroças e jumentos soltos”, explica.

JUMENTOS

Com esse título, o espectador pensa que vai ver um documentário sobre a longa história da Super Oara. Só que a história é outra, mas ainda instigante. Os membros da orquestra aparecem ensaiando e tocando em festas nas cidades vizinhas, mas eles dividem espaço com o Sertão que não para de mudar. As obras da transposição do Rio São Francisco e a construção da Transnordestina, que cortam a cidade, além dos jumentos que estão por toda parte, dão ao filme o peso dos tempos em transformação. Numa sequência tão hilária quanto poética, Sergio monta uma incrível sequência em que os jumentos cantam e dançam um trecho de Smooth Criminal, de Michael Jackson.

“Os jumentos não são autóctones, vieram da África e da Europa para o Brasil. Esse Sertão também foi feito por eles, mas hoje eles estão fora da festa, abandonados, com as motos tomando conta. A paisagem foi modificada em várias aspectos, mas eu queria mostrar um Sertão pulsante. O Sertão é meio que uma invenção de Gilberto Freyre, que, em 1930, durante um seminário, deu as bases para que uma elite, defasada financeiramente, tivesse regalias junto ao governo federal. Desde então a região é vista como vitimizada, de cultura pura, o que nunca foi. O baião vem da valsa e da polka, até Luiz Gonzaga reconhecia isso, ritmos estrangeiros que sofreram adaptação”, defende Sergio.

A INVENÇÃO DO NORDESTE

Segundo ele, uma das fontes principais para a pesquisa do filme foi o livro A Invenção do Nordeste, de Durval Muniz. “Foi uma obra de referência sobre a genealogia da criação desse Sertão, dono dessa cultura pura. Ele confirma que isso foi construído pela elite para ter subsídios do governo a partir dessa região vitimizada. Mas o problema não é seca, o Nordeste é uma região árida, naturalmente seca. E isso vem sendo usado para pegar dinheiro fácil até hoje”, critica o cineasta.

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