MOSTRA

Arquivo Público homenageia Geneton Moraes Neto e o Super 8

Jornalista ganha mostra de filmes Super 8 e exposição de reportagens

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 06/12/2016 às 9:14
Divulgação
Geneton Moraes tem toda sua produção Super-8 disponível no catálogo da Cinemateca Pernambucana - FOTO: Divulgação
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"Sim, o cinema Super 8 era mal feito, ingênuo, estropiado, dilacerado, mas jorrava a luz possível no meio do pântano geral da Pernambucália, naqueles anos todos. É claro que a gente não queria nada: a gente só queria incendiar o sol, ver a paisagem geral com olhos livres, construir através do visor da câmera todos os ângulos da beleza. Descobrir. Descobrir. Descobrir". É assim que o jornalista, documentarista e cineasta superoitista Geneton Moraes Neto, que faleceu no último dia 22 de agosto, no Rio, inicia o prefácio da tese de mestrado O Cinema Super 8 em Pernambuco, defendida por Alexandre Figueirôa na USP e publicada em formato de livro no Recife, em 1994.

Uma pequena fracção desse cinema realizado por Geneton e toda uma geração de cineastas - entre eles Paulo Cunha, Amin Stepple, Jomard Muniz de Brito, Félix Filho, Fernando Spencer, Paulo Bruscky, Celso Marconi e Osman Godoy, entre tantos outros - será exibida hoje e amanhã, a partir das 19h, no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano. São 11 filmes realizados na "bitola nanica" que, outra vez, colocaram - assim como já acontecera no cinema silencioso - o nome de Pernambuco no mapa do audiovisual brasileiro.

Entre os 11 curtas, quatros foram dirigidos por Geneton e serão apresentados hoje, com a presença de Beth e Joana Passi, viúva e filha do jornalista, que vão receber uma placa do Arquivo Público em sua homenagem. No final de 2014, Geneton tirou a poeira dos seus arquivos e partilhou cópias dos filmes na internet, num e-mail enviado ao repórter no dia 15 de dezembro. "Já fiz a minha parte: acabei de postar, hoje, nove curtas que fiz naquela época. São coisas que, com o tempo, vão virando ?relíquias?, como, por exemplo, um depoimento inédito de Francisco Julião, imagens de um show e áudio de uma entrevista com Caetano Veloso gravados no Recife em 1973, filmes premiados em festivais, como Esses Onze Aí (sobre futebol) e Funeral para a Década das Brancas Nuvens.

EXPOSIÇÃO

Além dos filmes, o Arquivo Público, atualmente dirigido pelo jornalista Evaldo Costa, preparou uma exposição com o trabalho de Geneton nos jornais locais, com recortes de matérias e reportagens sobre o Ciclo do Super 8. A mostra faz parte da programação comemorativa dos 71 anos de existência do órgão, que foi fundado em 4 de dezembro de 1945. O responsável pela curadoria da mostra é o jornalista Félix Filho, que também realizou filmes na época, como Cinema Glória, dirigido em parceria com Fernando Spencer. Ele teve a colaboração do colecionador Lula Cardos Ayres Filho, que, além de ter acompanhado o movimento de perto, é responsável pela exibição dos filmes.

De acordo com Félix, não foi uma tarefa fácil conseguir os filmes em película. "Tivemos dificuldades porque as cópias são únicas e os cineastas têm medo de que elas estraguem ao serem exibidas em projetores. Vamos exibir Cinema Glória e os curtas de Geneton em película, porque Beth disse que eles estão em boas condições", explica o jornalista. "Falei com vários cineastas e alguns não têm mais os filmes. Morte no Capibaribe, de Paulo Caldas, não foi encontrado em nenhum lugar. Esse é o último Super 8 produzido no Recife e muito importante por fazer uma ligação com a geração atual".

No Rio e em São Paulo, alguns cineastas experimentais - como Hélio Oiticica, Jairo Ferreira e Ivan Cardoso - também se exercitaram no formato e chegaram a fazer longas-metragens. Aqui no Recife, por toda uma década - entre 1973 e 1983 -, a efervescência era tanta que o cinema Super 8 virou movimento e ciclo - com a mesma importância histórica do Ciclo do Recife, entre as décadas de 1920 e 1930. Principalmente em virtude da fragilidade do suporte, esses filmes permanecem engavetados com os cineastas ou depositados em cinematecas (no MIS-PE ou na Fundação Joaquim Nabuco).

PALESTRAS

Nos dias da mostra, haverá também um ciclo de palestras com realizadores e estudiosos, com a participação de Paulo Cunha, Jomard Muniz de Brito, Félix Filho, Alexandre Figuerôa, Paulo Caldas e Lula Cardoso Ayres Filho. As pesquisas em torno do Ciclo do Super 8 também não foram muitas. Depois do livro de Alexandre Figueirôa, o principal registro foi o vídeo Super 8 - Meu Amor Bandido, da jornalista Isabelle Câmara, realizado em 1997 como conclusão do curso de jornalismo da Unicap. No momento, o cineasta Osman Godoy está preparando o Catálogo dos Filmes Super 8 de Pernambucano, um projeto que viabilizou a telecinagem de vários filmes, além de entrevistas com os realizadores.

Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano - Rua do Imperador, 371, Santo Antônio

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