CINEMA

Mostra Retrospectativa/Expectiva inicia com reivindicação das mulheres

Programação, que começa nesta quinta-feira (8/12), trra filmes que condenam o assédio e o machismo

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 07/12/2016 às 6:20
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Programação, que começa nesta quinta-feira (8/12), trra filmes que condenam o assédio e o machismo - FOTO: Divulgação
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A Mostra Retrospectiva/Expectativa promovida pela Fundação Joaquim Nabuco chega à sua 19ª edição neste fim de ano - são 11 dias ininterruptos com reprises dos filmes que marcaram 2016 e as pré-estreias dos inéditos que vão chegar às telas nos próximos meses. Ao todo, são 46 títulos, entre curtas e longas-metragens. A partir de amanhã, a extensa programação forjada pelo curador Luiz Joaquim acontece apenas no Cinema do Museu, em Casa Forte - o prédio do Derby está em reformas, com data para voltar no primeiro semestre do ano que vem -, ao dar a largada com um dia dedicado às questões envolvendo a situação da mulher no Brasil e no Mundo.

Entre os quatro filmes programados para o primeiro dia, dois podem ser considerados como os que mais respiram os anseios das mulheres daqui e de todos os lugares, num ano que está sendo considerado como a Primavera Feminista. Depois de assistir aos documentários Precisamos Falar do Assédio, da paulista Paula Sacchetta, e Câmara de Espelhos, da pernambucana Déa Ferraz, as mulheres se armam para enfrentar as situações de violência infligidas pelos homens - seja em casa, na rua, na escola ou no trabalho.

ASSÉDIO

Em Precisamos Falar do Assédio, Paula recolheu 140 depoimentos de mulheres. Elas ficaram livres - dentro de uma van, com a companhia apenas de uma câmera de vídeo - para falar das formas de assédio que sofreram toda a vida. No filme, a cineasta selecionou 26 depoimentos de mulheres entre 14 e 85 anos, coletados em bairros de classe média e da periferia do Rio e de São Paulo. "A ideia para o documentário surgiu quando elas se abriram para falar nas hashds_matia_palvr #meuprimeiroassedio e #meuamigosecreto. O que mais me chocou é que o assédio contra a mulher não tem idade, nem cor, nem classe social, nem bairro. A disponibilidade emocional delas também me surpreendeu", conta a cineasta.

Paralelamente ao filme, Paula disponibilizou as entrevistas sem cortes no site https://precisamosfalardoassedio.com/, em que as mulheres são convocadas para postar seus depoimentos. Organizadas por filtros, as formas de assédio permitem estabelecer o grau da violência masculina. Desde a primeira exibição, no Festival de Brasília, o documentário tem gerado debates e permitido que as mulheres superem o medo e falem do que sofreram. "Há uma menina que impressiona a todos que assistem ao filme. Quando ela chegou, ela foi para o final da fila e ficou chorando copiosamente. Ela disse que nunca contou o estupro que sofreu nem para a psicóloga", revela Paula.

MACHISMO

Embora realizado em 2013, muito antes que as ações das mulheres ganhassem foro como agora, Câmara de Espelhos se aproxima dos homens pelo viés do machismo, uma linguagem e uma visão de mundo que acompanham o sexo masculino desde o berço. "Na época, estava lendo Jean-Louis Commoli e discutia muito com Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso como filmar o outro num regime de adversidade. A princípio, pensei em filmar as conversas numa mesa de bar, mas achei que isso não ia ser possível. E seu construísse uma mesa de bar num estúdio, me perguntei. Foi quando o dispositivo da caixa-preta começou a nascer", explica.

Depois de publicar um "convite" em dois jornais recifenses e também nas redes sociais, a produção do documentário recebeu 60 homens, que se prontificaram a fazer o teste. Durante duas semanas, ela gravou com dois grupos de sete homens - tendo um convidado escolhido, que servia como provocador - tudo o que eles pensavam sobre as mulheres, a partir de temas despertados por imagens exploradas na mídia. "Eles reproduzem o mesmo discurso. O que ficou claro para mim é que, independente das histórias pessoais, o machismo é uma construção cultural e social", afirma Déa.

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