CINEMA

O cinema e o roteiro de Jorge Furtado na Caixa Cultural

Cineasta gaúcho ganha retrospectiva de sua obra no Recife

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 13/12/2016 às 7:22
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Cineasta gaúcho ganha retrospectiva de sua obra no Recife - FOTO: Divulgação
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Embora faça filmes há mais de 30 anos – entre eles a obra-prima Ilha das Flores, ganhadora do Urso de Ouro de Melhor Curta-Metragem no Festival de Berlim, em 1989 –, o cineasta gaúcho Jorge Furtado, 57 anos, é ainda mais conhecido como um dos mais brilhantes roteiristas do cinema brasileiro. A prova cabal dessa habilidade pode ser comprovada na mostra retrospectiva Palavra em Movimento – Filmes e Roteiros de Jorge Furtado, que começa nesta terça-feira (13/12) na Caixa Cultural, e culmina no próximo domingo, com uma master class dada por ele. Até lá, gratuitamente, qualquer pessoa pode conferir curtas, longas e episódios de séries de autoria de Jorge, na maior retrospectiva de sua obra montada até hoje.

Os interessados em escrever para TV e cinema têm muito o que aprender com Jorge: primeiro, vendo os filmes que ele escreveu e dirigiu e as séries que escreveu e continua a escrever para a TV Globo desde os anos 1990; depois, não perder, por nada deste mundo, à sua master class. “Eu vou falar sobre como começar um filme. Separei 10 cenas de filmes que mostram que prender a atenção do espectador é fundamental. Billy Wilder dizia: ‘Agarre o espectador pela garganta e não solte’. Tu tens que fazer uma cena 1 que arrebate o cara, até ele dizer eu quero ver a 2. A importância da cena 1 é total, no cinema e na TV. Pode ver a cena 1 de qualquer série – de Homeland, de Breaking Bad ou de Mad Men – são cenas que valem como um filme, elas têm estrutura, virada e até três atos. Essas cenas são as portas para o espectador entrar no universo dos filmes e das séries”, garante o múltiplo roteirista, durante uma entrevista por telefone.

RETROSPECTIVA

A retrospectiva dos trabalhos de Jorge Furtado teve inicio há dois anos, no Rio de Janeiro. Entre um trabalho e outro – que não são poucos, diga-se – ele visita uma cidade. Além de ser uma boa oportunidade de se revisar o trabalho de um verdadeiro homem de cultura, que por acaso encontrou seu meio de expressão no cinema, a retrospectiva serve também para aproximar o artista do público e clarear os caminhos de sua trajetória. No caso de Jorge, o seu amor pela palavra, presente em cada história que escreve.

“Eu sempre me considerei um roteirista que dirige porque cheguei no cinema pela escrita, sempre gostei muito de escrever e de ler. E nunca tinha pensado em fazer cinema, fazia medicina. Na verdade, eu gostava de desenhar e de escrever e sempre achei as duas coisas inconciliáveis, o mundo das palavras e o mundo das imagens, quando vi a possibilidade de fazer cinema. E é aí que as coisas se encontram, o cinema reúne a força da palavra com a força da imagem, o cinema pega de tudo, de todas as artes. É um meio muito poderoso. Eu sempre pensei no audiovisual para dizer coisas e contar histórias”.

Como muitos jovens criativos e com vontade de conhecimento, o cineasta gaúcho não chegou ao cinema de maneira fácil. Seu fascínio pelo conhecimento levou-o para várias direções antes de se reunir com os amigos e fazer o primeiro filme. “Eu estudei medicina, jornalismo, artes plásticas e psicologia e não terminei nenhuma faculdade. Eu me interesso por muitas coisas, como naquela música do Kid Abelha ‘Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim’. Eu me interesso por política, artes, esportes – neste sentido, o cineasta e o jornalista são generalistas”.

SERIADOS 

Jorge está envolvido em várias séries e minisséries, como Mister Brau e Nada Será Como Antes, e um documentário sobre a tradutora portuguesa Primavera das Neves, que foi perseguida pelo salazarismo. Agora, escreve o seriado Sob Pressão, que teve como piloto o longa-metragem homônimo dirigido por Andrucha Waddington, exibido nos cinemas há pouco mais de um mês. “Estou lendo tudo sobre saúde. Frequentei hospitais, entrevistei médicos, conversei com pacientes nas UTIs dos hospitais públicos e fui à Baixada Fluminense, um dos piores lugares do mundo. Eu disse para Márcio Maranhão, o médico que inspirou o seriado, que até opero, porque estou muito por dentro do assunto”, comenta, não sem antes desabafar pelo que viu durante a pesquisa de campo. “ É um pesadelo, cá entre nós. Se a guerra civil tem um front, é lá, nos hospitais públicos da periferia brasileira”.

A facilidade com que Jorge trafega por vários universos é notória. Seus diálogos certeiros e ágeis, cheios de graça e verve, saem das bocas de uma rica variedade de personagens, independentes de lugar e classe social. “Eu sou a maior fraude nesse sentido. Eu escrevi Ó Paí, Ó, que se passa no Pelourinho, Cidade dos Homens, numa favela do Rio, e Antônia, em Brasilândia, uma favela de São Paulo, mas de Porto Alegre. Claro, eu vou lá, dou uma olhada, pesquiso, mas não sou de lá.”

Como bom dramaturgo, Jorge Furtado acredita que as histórias servem para qualquer lugar, como as comédias e tragédias de Shakespeare. “Tu podes fazer Shakespeare na Brasilândia, Rei Lear na Favela da Maré – os dramas humanos acontecem em qualquer época e em qualquer lugar. Shakespeare é atual há 400 anos. Eugene O'Neill, um grande dramaturgo americano, diz que as pessoas sofrem por dois motivos: ‘Porque têm o que não querem ou porque querem o que não têm – é medo e desejo, essas são as duas coisas que movem todos os personagens de todos os lugares.”

Programação:

Terça-13/12

14h 

- Até a vista  (18’) (de Jorge Furtado, 18 min, cor, 2011, 12 anos)

Numa livraria na cidade de Porto Alegre, Fernando procura uma história para contar em seu primeiro longa-metragem. Fernando viaja para Argentina atrás de Borges Escudero, o autor do romance “Fronteiras”. Na tentativa de conseguir os direitos autorais, o cineasta recebe uma proposta inusitada do escritor. Os dois viajam para o Brasil a procura de um antigo amor de Borges Escudero.

- Saneamento básico, o filme (112') (de Jorge Furtado, 112 min, cor, 2007, 12 anos)

Na pequena Linha Cristal, a comunidade se mobiliza para construir uma fossa no arroio e acabar com o mau cheiro. Marina, a líder do movimento, descobre que a Prefeitura este ano só tem verba para produzir um vídeo de ficção. Então ela e seu marido Joaquim resolvem filmar a história de um monstro que surge no meio das obras de saneamento. Marina escreve um roteiro, Joaquim faz uma fantasia. Silene aceita ser atriz, Fabrício tem uma câmara. Aos poucos, as filmagens vão envolvendo todos os moradores do local.

 

16h30

- Decamerão: Ep. Comer, amar e morrer (39')

Ep. O Espelho (31')

Ep. O Ciúme (35')

 

18h30

- O homem que copiava (124') (de Jorge Furtado, 124 min, cor, 12 anos)

André, 20 anos, operador de fotocopiadora em uma papelaria, precisa desesperadamente de trinta e oito reais para impressionar a garota dos seus sonhos, Sílvia, que mora no prédio em frente e trabalha como balconista em uma loja de artigos femininos. Ajudado por seu amigo Cardoso, e depois também pela colega de trabalho Marinês, André faz muitos planos para conseguir dinheiro. E todos dão certo. E é aí que seus problemas começam.

Quarta 14/12

 

15h

- Ângelo anda sumido (16') (de Jorge Furtado, 17 min, cor, 1997, Livre)

Dois velhos amigos se reencontram e combinam de jantar juntos, mas em seguida voltam a se perder no labirinto de grades, cercas e muros de uma grande cidade.

- Meu tio matou um cara (85') (de Jorge Furtado, 85 min, cor, 16 anos)

Duca, aos 15 anos, descobre que os crimes que ele está acostumado a ver em jogos eletrônicos também podem existir na vida real, quando seu tio Éder é preso por um assassinato mal explicado. Duca resolve investigar o caso por conta própria, e tenta levar junto seus colegas Kid e Isa. Mas Isa parece mais interessada em Kid. E Kid parece mais interessado na primeira que aparecer. E Duca, claro, no fundo só se interessa por Isa.

 

17h 

- A comédia da vida privada: As idades do amor (47')

- História do amor temp 1 (47')

19h 

- História do amor temp 3 (16)' CLASSIFICAÇÃO: LIVRE  

- Velásquez e a teoria quântica da gravidade (3') 

- Houve uma vez dois verões (75')(de Jorge Furtado, 75 min, cor, 2002, 12 anos)

Chico, adolescente em férias na "maior e pior praia do mundo", encontra Roza num fliperama e se apaixona. Transam na primeira noite, mas ela some. Ao lado de seu amigo Juca, Chico procura Roza pela praia, em vão. Só mais tarde, já de volta a Porto Alegre e às aulas de química orgânica, é que ele vai reencontrá-la. Chico quer conversar sobre "aquela noite", mas Roza conta que está grávida. Até o próximo verão, ela ainda vai entrar e sair muitas vezes da vida dele.

 

Quinta 15/12

14h30

- Luna Caliente (120') CLASSIFICAÇÃO: 14 ANOS

17h

A comédia da vida privada - Ep. O mistério da vida alheia (53') + - História do amor temp 2 (34')

19h 

- O dia em que Dorival encarou a guarda (14') (de Jorge Furtado e José Pedro Goulart, 14 min, cor, 1986, 14 anos)

Numa prisão militar, numa noite de muito calor, o negro Dorival tem apenas uma vontade: tomar um banho. Para consegui-lo, vai ter que enfrentar um soldadinho assustado, um cabo com mania de herói, um sargento com saudade da namorada, um tenente cheio de prepotência - e acabar com a tranquilidade daquela noite no quartel.

- Homens de bem (70') CLASSIFICAÇÃO: 14 ANOS

 

Sexta 16/12

15h

- A comédia da vida privada: Ep. Apenas bons amigos (47')

CLASSIFICAÇÃO: 16 ANOS

- Cena aberta: Ep. O Negro Bonifácio (31') LIVRE

17h

- Ed Mort: Ep. Nunca houve uma mulher como Gilda (53')

CLASSIFICAÇÃO: 16 ANOS

- Cena aberta: Ep. As três palavras divinas (24')

19h 

- A comédia da vida privada: ep. Anchietanos (50') 12 ANOS

- Cena aberta: Ep. A hora da estrela (39') LIVRE

 

Sábado 17/12

13h 

-Doris para maiores: Ep. Dona Sílvia não gostava de música (4') CLASSIFICAÇÃO: 16 ANOS + Ep. Tempo (3') 

- O sanduíche (13') ( De Jorge Furtado, 13 min, cor, 2000, 10 anos)

Os últimos momentos de um casal: a hora da separação. Mas o fim de alguma coisa pode ser o começo de outra. Outro casal, os primeiros momentos: a hora da descoberta. Encontros, separações e um sanduíche. No cinema, o sabor está nos olhos de quem vê.

Doce de mãe (70') CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS

15h

- A comédia da vida privada: Drama (52') CLASSIFICAÇÃO: 12 anos 

- Barbosa (13')(de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, 13 min, cor, 1988, livre) Trinta e oito anos depois da Copa do Mundo de 1950, um homem volta no tempo a fim de impedir o gol que derrotou o Brasil, destruiu seus sonhos de infância e acabou com a carreira do goleiro Barbosa 

- Esta não é a sua vida (15') (de Jorge Furtado, 16 min, cor, 1991, 10 anos)

Documentário sobre a vida de Noeli Joner Cavalheiro. Noeli mora num subúrbio de Porto Alegre, é dona de casa e tem dois filhos. Nasceu numa cidade do interior, foi pra capital, trabalhou numa padaria, casou. É uma pessoa comum. Mas não existem pessoas comuns.

16h30

- Ilha das Flores (12') (de Jorge Furtado, 12 min, cor, 1989, livre)

Um tomate é plantado, colhido, transportado e vendido num supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Não. ILHA DAS FLORES segue-o até seu verdadeiro final, entre animais, lixo, mulheres e crianças. E então fica clara a diferença que existe entre tomates, porcos e seres humanos.

- Fraternidade (3') (de Jorge Furtado, 3 min, cor, 1999, 10 anos)

Documentário sobre o retorno À Ilha das Flores. 

- A Matadeira (15') (de Jorge Furtado, 16 min, cor, 1994, 14 anos)

Canudos foi uma pequena aldeia no nordeste do Brasil, fundada pelo líder messiânico Antônio Conselheiro e massacrada por um poderoso exército até a morte do último de seus 30 mil habitantes, em 5 de outubro de 1897. O filme conta o massacre de Canudos a partir de um canhão inglês, apelidado pelos sertanejos de "A MATADEIRA", que foi transportado por vinte juntas de boi através do sertão para disparar um único tiro.

- O mercado de notícias (94') (de Jorge Furtado, 94 min, cor, 2013, 10 anos)

Documentário sobre jornalismo e democracia. O filme traz os depoimentos de treze importantes jornalistas brasileiros sobre o sentido e a prática de sua profissão, o futuro do jornalismo e também sobre casos recentes da política brasileira. O surgimento do jornalismo, no século 17, é apresentado pelo humor da peça "O Mercado de Notícias", escrita pelo dramaturgo inglês Ben Jonson em 1625. Trechos da comédia de Jonson, montada e encenada para a produção do filme, revelam sua espantosa visão crítica, capaz de perceber na imprensa de notícias, recém-nascida, uma invenção de grande poder e grandes riscos.   

18h30

Debate - "O mercado de notícias: as crises da imprensa brasileira”, com Jorge Furtado, Adriana Dória Matos (professora e editora da revista Continente) e Angelo Defanti (curador da mostra)

 

Domingo 18/12

14h às 17h – Master class  com Jorge Furtado

 

 

SERVIÇO:

Mostra Palavra em movimento - Filmes e roteiros de Jorge Furtado

Local: CAIXA Cultural Recife - av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife/PE

Telefone: 3425-1915

Data: 13 a 18 de dezembro de 2016

Ingressos: R$ 2 e R$ 1 (meia) para as exibições. O debate e a master class têm entrada gratuita, com distribuição de senhas uma hora antes do início. 


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