CINEMA

Tolerância é o mote do filme Tour de France, do Festival Varilux

Longa-metragem traz no elenco o rapper Sadek e o ícone Gérard Depardieu

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 12/06/2017 às 18:49
Bonfilm/Divulgação
Longa-metragem traz no elenco o rapper Sadek e o ícone Gérard Depardieu - FOTO: Bonfilm/Divulgação
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 Entre os sete atores e diretores do cinema francês que estiveram no Rio para promover o Festival Varilux 2017, o mais jovem era o rapper Sadek, que protagoniza o longa Tour de France, de Rachid Djaidani. Aos 27 anos, ele teve a sorte de estrear no cinema ao lado de Gérard Depardieu, um ator que já virou uma instituição da França. O filme sessão nesta segunda-feira (12/6), às 14, no Cinemark RioMar, às 14h. Na sexta, o Moviemax Rosa e Silva 1 passa o filme às 20h45. Outro oportunidade é a sessão de sábado no Cinema da Fundação/Museu, em Casa Forte, às 15h55. No filme, Sadek acompanha Depardieu numa viagem pelos portos do país. A jornada, feita por acaso, aproxima o jovem rapper Far´Hook, em fuga de Paris depois de sofrer um atentado, de Serge, pai do seu produtor, um ex-presidiário racista que nunca aceitou o fato de o filho ter se convertido ao Islã.

“Foi uma experiência extraordinária, surrealista até, porque estou dividindo a cena com um dos melhores atores do mundo. Gérard me dedicou uma atenção muito especial, quase paternal, e eu aceitei de bom grado tudo o que ele quis me dar. Nunca pensei em fazer cinema, porque achava impossível, mas descobri que gostei de fazer, uma coisa genial que me mudou completamente. A barriga de Gérard é um patrimônio nacional. No início, para respeitá-lo, não me aproximei muito. Eu preferi deixar a escolha para ele, se ele queria falar comigo ou não. Quando Gérard percebeu que eu era uma pessoa desinteressada, ele se tornou muito generoso e começou a me dar conselhos”, relembrou Sadek.

Tour de France teve sua pré-estreia na Quinzena dos Realizadores do ano passado. Mas a crítica ficou dividida quanto a mensagem de tolerância do filme, uma tentativa de mostrar as duas faces da moeda do racismo no país. Apesar de a recepção não haver sido das melhores, Sadek aponta outro problema, que está além dessa questão. “Para ser totalmente honesto, a mensagem do filme não foi recebida pela nova geração. Na França, os filmes são feitos para serem mostrados aos ricos. O momento mais importante é no Festival de Cannes, onde as pessoas ficam comendo canapés e fazendo de conta que estão muito emocionadas. Da minha parte, o que fiz foi alugar duas salas de cinema e comprar 1.200 ingressos para levar os garotos do meu bairro para eles verem o filme. Agora, Tour de France está na plataforma de streaming e ele pode até ser baixado ilegalmente. Viva o streaming!”, gritou Sadek.

Filho de pai tunisiano e mãe russa, Sadek nasceu em Neuilly-Plaisance, um subúrbio distante 12 quilômetros do centro de Paris. Com uma carreira de quase 10 anos, ele já lançou um álbum de estúdio e várias mixtapes. Sadek foi escolhido para fazer o rapper Far´Hook pelas mãos de Clément “Animalsons” Dumoulin, o autor da trilha sonora de Tour de France, com quem divide as letras de várias canções do filme. “Eu escrevia as canções 15 minutos antes das cenas serem filmadas. Escrevo muito rápido, sou boêmio, gosto de festas e ainda tem o problema de que quase não durmo. Eu ia dormir às 5h da manhã e já estava em pé às 8h para filmar”, contou Sadek, que admira muito a música brasileira. “Não sou um grande artista do rapper francês, mas estou tentando fazer direito a minha música. Mas, seu eu fosse brasileiro, não escutaria rapper francês. A música brasileira é muito melhor. Eu gosto muito de Seu Jorge e da Bossa Nova, uma música de muita paz”.

RELIGIÃO

A pintura e a música são as motivações dos personagens do filme. Serge segue as pegadas de Joseph Vernet, o pintor que foi contratado pelo Rei Luís XV e se dedicou a pintar 15 portos da França, entre 1754 e 1765. Serge diz a Far´Hook que aprendeu a pintar na prisão, depois que botou fogo numa fábrica quando ele e todos os funcionários foram despedidos. Durante a viagem, Far´Hook vai apontado para Serge que ele e os imigrantes não são muito diferentes uns dos outros, pois sofrem com as mesmas dificuldades. Depois de Tour de France, Sadek já recebeu várias propostas, mas já disse que não vai mexer com temas religiosos. “Eu respeito todas as religiões: católica, protestante, muçulmana ou judaica, qualquer que seja. Aprendi que com o sagrado não se brinca. Eu já recusei papéis em nove filmes franceses e um americano, para fazer personagens que fazem referências a Alá. Um deles era sobre um muçulmano pedófilo; em outro, um cara que explode uma igreja. Enfim, vários personagens desses tipo que eu me recuso a fazer”, garantiu o ator.

“Muitos filmes são inspiradores para mim, mas para fazer esse eu não quis ver nada, achei que fui escolhido por causa da minha vida. Por isso tentei ser eu mesmo. Eu lembro que, durante as filmagens, li no roteiro uma cena que tinha escrito chorando. Eu comecei a chorar e de repente chegou alguém com um lenço, perguntando por que eu estava chorando. E eu disse que está escrito chorando no roteiro. No cinema, o importante não só é representar a tristeza, você precisa estar triste para ser verdadeiro, como se os sentimentos fossem iguais as cores para um pintor.”

Por causa da situação na França, Sadek já pensa em sair de Paris. “Eu tenho viajado muito e estou com muita vontade de morar em outro lugar. Já pensei em Londres, Atenas, Los Angeles, Nova Iorque e o Rio, como o Vincent Cassel, que mora aqui há muito tempo”, concluiu o ator.

O repórter viajou a convite da organização do Festival Varilux.

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