CRÍTICA

A ciranda do amor imperfeito de De Canção em Canção

Filme do americano Terrence Malick estreia nesta quinta-feira (20/7) no Cinema da Fundação/Museu

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 20/07/2017 às 5:50
Supo Mungam/Distribuição
Filme do americano Terrence Malick estreia nesta quinta-feira (20/7) no Cinema da Fundação/Museu - FOTO: Supo Mungam/Distribuição
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Quando um cineasta forja um universo pessoal e intransferível, é comum que ele ganhe um adjetivo próprio: é por isso que se diz felliniano, hitchcockiano, wellesiano, kubrickiano... Mas não são muitos os que conseguem esse feito: um dos adjetivos mais recentes é malickiano, que advém de Terrence Malick, o cineasta mais estranho e secreto da história do cinema americano. Quer dizer, até há bem pouco tempo, Malick era o sucedâneo cinematográfico de Thomas Pynchon, que até hoje ninguém sabe o que é – se um escritor ou uma corja de ghost writers.

De Canção em Canção, o mais recente longa-metragem de Terrence Malick, que estreia nesta quinta-feira (19/7) em circuito nacional – no Recife, exclusivamente no Cinema da Fundação/Museu – é o melhor dos últimos três filmes que ele dirigiu (os outros dois são Amor Pleno e Cavaleiro de Copas). Mas isso é uma opinião pessoal. Cada fã de Malick tem o seu preferido. Os mais antigos gostam de Terra de Ninguém e/ou Cinzas do Paraíso, realizados na década de 1970, e detestam tudo o que ele fez de 1997 em diante, quando quebrou um jejum de 20 anos sem filmar.

É bem verdade que os filmes recentes de Malick, realizados a partir de A Árvore da Vida, de 2011, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, formam um tipo de cinema tão etéreo que se desmancha no ar. Principalmente numa época que a trama tomou conta de um novo espectador (aquele viciado nas séries da Netflix), um filme como De Canção em Canção é um tormento e um contrassenso. Embora seja mais narrativo que Amor Pleno e Cavaleiro de Copas, ainda assim o filme não tem uma história em que somos obrigados a seguir, apenas uma sucessão infinita e atemporal de momentos suspensos da vida de quatro personagens principais e um ou outro coadjuvante.

FLUXO DE CONSCIÊNCIA

No mundo de Malick, as pessoas parecem perdidas e sem rumo, falam com os pensamentos e muitas vezes nem terminam o que tinham a dizer. O fluxo de consciência é constante, numa tentativa de capturar os sentimentos mais íntimos de cada uma delas. Neste filme, a voz mais constante é a de Faye (Rooney Mara), uma garota que foi para Austin, no Texas, tentar um lugar ao sol na cena musical da cidade. Depois de ficar com o chefe, o produtor Cook (Michael Fassbender), ela se apaixona por BV (Ryan Gosling), um músico em início de carreira. Indecisa em relação aos dois homens, que são amigos, ela ainda vai se relacionar com uma mulher. Cate Blachett e Natalie Portman, que já haviam trabalhado em Cavaleiro de Copas, também retornam para a ciranda amorosa de De Canção em Canção.

O que faz o cinema de Terrence Malick distintivo é sua capacidade de imaginar um mundo exclusivamente cinematográfico. Com a colaboração do diretor de fotografia mexicano Emmanuel Lubezki, ele faz do cinema uma sinfonia de cores, sons, sentimentos e estados d’alma. Malick encontrou uma maneira de fazer um cinema atual, sem o apelo à violência ou à maldade, a combinação preferida pelos diretores europeus e americanos das duas últimas décadas. Já com a idade vetusta de 77 anos, não deixa de ser salutar ver o velho cineasta se interessar pelo rock’n roll.

Entre as crises dos personagens, ele inseriu flashes de bastidores com a participação dos músicos do Red Hot Chili Peppers, do punk John Lydon, Iggy Pop e da eterna musa Patti Smith, que chora a perda do marido que nunca conseguiu esquecer. Bonito, Malick!

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