CINEMA

Amores de Chumbo, de Tuca Siqueira, estreia no Festival do Rio

Longa foca na relação de três ex-militantes políticos, na casa dos 65/70 anos, que se reencontram depois de quatro décadas

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 10/10/2017 às 5:14
Victor Jucá/Divulgaçao
Longa foca na relação de três ex-militantes políticos, na casa dos 65/70 anos, que se reencontram depois de quatro décadas - FOTO: Victor Jucá/Divulgaçao
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A cineasta pernambucana Tuca Siqueira, 38 anos, apresenta amanhã, na Mostra Novos Rumos do 19º Festival do Rio, o longa-metragem Amores de Chumbo. Primeiro filme de ficção da diretora – já com uma larga experiência na realização de curtas e documentários –, a produção acompanha-a desde 2008, quando o projeto de desenvolvimento do roteiro foi aprovado no 1º Edital do Audiovisual/Funcultura.

Inicialmente, Tuca queria fazer um filme de época sobre a vida dos militantes políticos durante a ditadura, mas, depois de pesquisar o período – bem próximo da realidade dela, pois o pai, o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, foi preso pelo governo militar – e de entregar o roteiro, ela deixou-o de lado para um processo de decantação em que o resultado não foi satisfatório.

“Depois fui fazer Eu Vou Contar para Meus Filhos e A Mesa Vermelha, dois documentários em que ouvi 45 ex-presos políticos na faixa etária dos personagens de Amores de Chumbo. Isso me influenciou muito porque essas pessoas só são chamadas para falar sobre o passado, mas elas estão aí, vivendo. Foi quando me dei conta de que não queria fazer um filme de época, mas sobre hoje. Foi um desafio e uma delicia fazê-lo. Quando as pessoas falam que foram nove anos, eu não sinto esse peso, porque ele foi uma grande escola. Por conta disso é que estudei e me preparei cada vez mais para ele”, explica Tuca, por telefone, do Rio, onde está para acompanhar as sessões.

Amores de Chumbo conta a história do reencontro da escritora pernambucana Maria Eugênia (Maê), radicada na França, com o casal Miguel e Lúcia, que acaba de completar 40 anos de casamento. Agora na casa dos 65/70 anos, os três ainda carregam histórias de quando participaram ativamente da vida política do Brasil. “A gente escolheu o amor do presente para falar do passado. É um filme de amor. Estamos usando um frase para definir o filme: ‘O que o tempo não apaga, incendeia’. O que todo mundo carrega, além da idade, é a memória. Não existe muitos filmes com personagens nessa idade, parece que a gente não envelhece nunca”, questiona a diretora.

ELENCO

Para dar corpo e alma aos seus personagens, Tuca foi ousada em suas escolhas. Apesar de ser o primeiro filme, ela foi atrás de três atores com larga experiência teatral, mais do que cinematográfica. Miguel, um professor de sociologia e ex-preso político, é interpretado pelo ator e diretor de teatro cearense Aderbal Freire-Filho, uma indicação da corroteirista Renata Mizhari.

“Ela havia me falado de Aderbal e eu fiquei encantada. Entrei em contato com ele da maneira mais simples. Mandei um e-mail dizendo que era pernambucana e esse era meu primeiro filme. Depois de uma conversa no Rio, já saí de lá sabendo que ele era Miguel”, relembra Tuca.

A escolha das atrizes também foi um processo de escolha em que Tuca conversou com muitos colaboradores. Maê é interpretada por Juliana Carneiro da Cunha (de Lavoura Arcaica). “O legal é que Juliana mora na França e isso coincidiu com a personagem dela. No caso de Lúcia, eu queria uma atriz pernambucana ou nordestina. Foi quando conheci Augusta Ferraz, que é uma grande dama do nosso teatro”, disse Tuca.

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