Crítica

'12 Heróis' mostra o 1º contra-ataque dos EUA após o 11 de setembro

Drama de guerra, '12 Heróis' conta uma história pouco conhecida pelo público, mas peca por apresentar uma abordagem unidimensional da batalha.

JC Online
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Publicado em 14/03/2018 às 13:00
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Drama de guerra, '12 Heróis' conta uma história pouco conhecida pelo público, mas peca por apresentar uma abordagem unidimensional da batalha. - FOTO: Foto: Divulgação
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Em 11 de setembro de 2001, o mundo assistiu ao vivo, pela televisão, o maior atentado terrorista de todos os tempos: o ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, nos Estados Unidos. O que muita gente não sabe é que, um dia depois, 12 homens se ofereceram para lutar contra o terrorismo no Afeganistão, numa missão confidencial extremamente perigosa que envolvia unir forças com o general afegão da Aliança do Norte com o objetivo de combater um adversário em comum: o Talibã e seus aliados da Al-Qaeda. Esse contra-ataque, denominado de Task Force Dagger, é o mote do drama de guerra que estreia nesta quinta-feira (15) nos cinemas brasileiros, 12 Heróis, do dinamarquês Nicolai Fuglsig, uma ficção inspirada em fatos reais e baseada no homônimo – e bem-recebido – livro do americano Doug Stanton, publicado no Brasil pelo Grupo Editorial Record com o subtítulo As Forças Especiais que Fizeram História.

Assista ao trailer:

Protagonizado por Chris Hemsworth, o deus nórdico Thor dos filmes de mesmo nome e da série Vingadores, o filme mostra sobretudo como Mitch Nelson, um militar sem experiência no campo de batalha, deixa sua família para liderar um pequeno grupo de soldados das Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos. O time, instruído a dominar Mazar-I-Sharif (fortaleza do Talibã e quarta maior cidade do Afeganistão), tinha como principal função passar as coordenadas da posição dos inimigos e acionar o poder de fogo dos bombardeiros, os pilotos de helicóptero das Operações Especiais. Apesar do apoio aéreo, o desafio da equipe estava no solo: na paisagem árida, áspera e desumanizada das montanhas. Relação homem-natureza que poderia ter sido melhor explorada, visto que condições inóspitas em regiões desconhecidas são perfeitamente capazes de gerar medo.

Para atravessar o terreno acidentado, os 12 homens, acostumados a uma tecnologia de ponta, precisaram adotar técnicas mais rudimentares e montar em cavalos, que foram cedidos pelo líder da Aliança do Norte, Abdul Dostum (Navid Negahban), logo depois que superaram uma desconfiança mútua com muita diplomacia, apesar dos estranhamentos de uma vasta diferença cultural. Muitos dos soldados não sabiam como galopar, e, apesar dos encorajamento do heroico Mitch, não conseguiram aprender, o que acaba sendo um dos pontos cômicos da trama, levemente risível. É essa guerra a cavalo também que dá o tom singular do longa, resultando num interessante misto de western e war movie. A diferença é que mísseis são disparados no lugar das flechas tão comuns ao gênero que consagrou o ator John Wayne (1907 – 1979) – o que acontece durante uma emboscada dos talibãs, muito superiores em número.

Com boas cenas de ação nas tomadas desérticas, o toque de drama fica por conta da relação entre Mitch e Dostum, com diálogos de moralidade referentes ao conflito (que por pouco não beiram a artificialidade das frases de efeito, ponto negativo para o roteiro de Ted Tally e Peter Craig). A atuação do iraniano Navid Negahban (Homeland) é um dos pontos altos do filme, apesar de este ser praticamente carregado nas (fortes) costas do australiano Hemsworth. O que nos deixa na vontade de conhecer um pouco mais da composição dos outros 11 heróis mencionados no título da obra, que aparecem em momentos pontuais, mas ficam apagados ao longo da trama. Entre eles estão os ótimos atores Michael Shannon (A Forma da Água, Animais Noturnos), na pele de Hal Spencer, e Michael Peña (World Trade Center, Homem-Formiga), como intérprete de Sam Diller. Este último, inclusive, desenvolve uma amizade com Najeeb (Arshia Mandavi), um garotinho afegão que com uma metralhadora é incumbido de lhe proteger.

12 Heróis é uma obra importante por apresentar ao público uma batalha pouco conhecida. É uma forma de revelar ao mundo a contribuição de soldados que arriscaram suas vidas e passaram quase uma década sem receber seu devido mérito por questões confidenciais. Apesar das intenções honrosas, é fundamental, entretanto, que esse conflito não seja visto com olhar unidimensional, como é abordado no filme, de forma maniqueísta, com o Talibã personificando o mal, por mais atroz que este seja. É preciso fazer o contrapeso e questionar também os lances do contra-ataque americano. Levar em conta que eles venceram uma batalha, mas não a guerra, que perdura de forma lenta e dolorosa até os dias de hoje, uma década e meia depois do 11 de setembro. O que o filme não faz questão nenhuma de lembrar.

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