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DJ Dolores ensina sonorização de cinema a crianças de escolas públicas

Projeto batizado de 'Além da Trilha' ensina elementos como trilha sonora, diálogos e sons ambientes para alunos de duas escolas públicas do Recife

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 31/03/2018 às 14:48
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Projeto batizado de 'Além da Trilha' ensina elementos como trilha sonora, diálogos e sons ambientes para alunos de duas escolas públicas do Recife - FOTO: Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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A primeira parte do binômio audiovisual, o som, é uma propriedade vital na forma cinematográfica, operando na construção dos sentido de forma tão poderosa quanto a imagem. Esse campo abarca um extenso menu de elementos: trilha sonora, diálogos, ambiência, foley, mixagem, edição. A lista é extensa. Procurando desmistificar esta complexidade, Helder Aragão, também conhecido como DJ Dolores, levou um projeto que insere crianças de duas escolas públicas municipais neste contexto de áudio para cinema. A ideia principal é lançar uma semente musical nos jovens alunos, para que vocações possam desabrochar e possíveis novos talentos surgirem para a música em si.

As raízes dessa ideia surgiram anos atrás, no próprio início da carreira de Helder, que começou na música com trilhas sonoras. Desde Enjaulado, um dos primeiros curtas de Kleber Mendonça Filho, até títulos como Tatuagem e O Som ao Redor, contam com o nome DJ Dolores na trilha sonora. Já tratou sobre o assunto em palestras e workshops para adultos, mas foi em outro Estado que começou a dialogar sobre isso com os mais jovens.

"Há três anos, me convidaram para montar um projeto em Santa Luzia do Itanhi, interior de Sergipe, para ensinar música de audiovisual a crianças, chamado PLOC. Construímos um laboratório, com estúdio, equipamento e excelentes profissionais da área", explica. Segundo ele, lá, os alunos já saem aptos para fazer trabalhos na área.

Com um ano de projeto completado, ele conseguiu trazer algo semelhante para o Recife, por meio de incentivos do Funcultura. Assim surgiu o Além da Trilha, mais enxuto que o PLOC, contemplando a Escola Municipal Luiz Lua Gonzaga, na Bomba do Hemetério e a Escola Municipal Virgem Poderosa, no Parnamirim. Os alunos aprendem noções básicas de trilha sonora, foley – processo de criação de sons da narrativa – e diálogos.

A partir dessas noções, as crianças já colocam a mão na massa, construindo os próprios processos de sonorização, utilizando instrumentos simples, até mesmo de brinquedo. “A ideia é desmistificar mesmo a música, mostrá-la como acessível. Essas crianças são verdadeiras esponjas, conseguem absorver o que é transmitido com muita facilidade. Ainda dá para ver na carinha delas aquela expressão de ‘opa, aprendi uma coisa nova’”, conta Helder.

As próprias crianças relatam essa boa absorção. “Foi bem interessante, eu aprendi que sem o som o filme não é nada, deu para ver como é difícil, mas também legal fazer isso”, conta Camilla Monteiro, 10 anos, aluna do 5º ano da Luiz Lua Gonzaga. O Além da Trilha também ajudou a criar espectadores mais atentos. “A partir de agora, vou começar a assistir às coisa prestando mais atenção no que escuto, os diálogos, as trilhas, foi tudo muito legal de aprender”, afirma Marcel David, 11, também aluno do 5º ano. Já Clara Thaisa, 10, acredita que ter tocado instrumentos durante as aulas incutiu nela o desejo de continuar a fazer música. "Tocar instrumento foi a melhor parte, aprender quando começar a tocar e quando parar. Gostaria de continuar aprendendo", afirma.

 

  Foto: Mateus Sá/Divulgação

 

Equipe bem escolhida

Para auxiliar no ensino, Helder teve ajuda dos músicos Guga Fonseca, tecladista e produtor musical, que conta com trabalhos feitos ao lado de nomes como Mundo Livre S/A, Ylana Queiroga e Academia da Berlinda, além de Parrô Mello, um dos fundadores da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério e com trabalhos também na área de trilha sonora para filmes.
Equipe bem escolhida

"Este projeto tem um cunho muito forte de despertar nessas crianças um interesse por músicas que vão além das impostas pela mídia. Vão ajudá-las a serem profissionais com uma visão diferenciada de cultura", explica Parrô. "O principal objetivo a gente conseguiu aqui, que é fazer essa juventude olhar para o cinema e ver além da imagem. Ainda deu pra ver o senso de coletividade delas, em entender quando é sua hora e quando é hora do amigo tocar. Acho que aprendi até mais que elas", salienta Guga.

"Me espanta que ensino musical não é obrigatório nas escolas. É um troço que provoca a concentração, tem um retorno imediato quando veem a as engrenagens que fazem a música funcionar", conclui Helder. É cedo para dizer se novos músicos podem ter nascido do projeto, entretanto, com certeza surgiram ouvidos mais solícitos e atenciosos.

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