CINEMA

Caruaru pioneira na exibição de filmes em Pernambuco

Pesquisador aponta que as primeiras exibições se deram em setembro de 1896, na capital do agreste

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 29/04/2018 às 14:26
Sergio Bernardes/JCImagem
Pesquisador aponta que as primeiras exibições se deram em setembro de 1896, na capital do agreste - FOTO: Sergio Bernardes/JCImagem
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Eles eram artistas, empreendedores e quase todos se perderam nas areias do tempo. Quem aí já ouviu falar de Francisco Pereira de Lira? Ator, empresário e depois funcionário do cemitério de Santo Amaro, onde foi enterrado em seis de setembro de 1941, esse recifense é o visionário que promoveu as primeiras exibições cinematográficas em Pernambuco, em 1896. Quem achava que as exibições inaugurais haviam sido no Recife, como se pensava até hoje, irá se surpreender com a história de Lira. O responsável pela descoberta dessa figura ímpar é o historiador Felipe Davson, 29 anos, da Cinemateca Pernambucana, recém-criada numa pareceria entre o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e o Cinema da UFPE.

“A especificidade dessa descoberta é que a primeira exibição cinematográfica aconteceu no interior do Estado. Foi em Caruaru, no dia 13 de setembro de 1896, como encontrei em pesquisas de jornais da época, na antiga Fábrica de Roupas, que ficava ao lado da Estação Ferroviária de Caruaru. Lira enfeitou o lugar, colocou cadeiras e contratou uma banda sinfônica para tocar nos intervalos das sessões, que duravam em torno de meia-hora. A sessão teve ingressos pagos”, conta Felipe, durante entrevista na Cinemateca Pernambucana, instalada no andar acima do Cinema da Fundação/Museu, em Casa Forte, onde fica a sede da Fundaj.

Formado em história pela UFPE, Felipe é mestrando da UFRPE, onde pesquisa os primórdios das sessões cinematográficas em Pernambucano no período entre 1896 e 1909. “São anos muito ricos e com detalhes muito interessantes, encontrados nas matérias dos jornais, a principal fonte da minha pesquisa. De parágrafos simples, as matérias passam para meia página”, explica. As fontes são as edições dos jornais A Província, Jornal do Recife e Diário de Pernambuco, que podem ser acessadas no acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

A trajetória de Francisco Pereira de Lira foi acompanhada pelos leitores do Recife desde o dia 18 de agosto de 1896, quando uma notinha do Jornal do Recife anunciava a presença dele em Paris, “onde fora adquirir um importante apparelho ilusionista e outras novidades do gênero das companhias americanas de variedades.”

De acordo com o Diario de Pernambuco, Lira voltou de Paris com o aparelho no dia 25, mas não conseguiu fazer a primeira sessão do Kinetógrapho no Recife, como pretendia. No dia 4 de setembro, o jornal publicou outra nota: “Não tendo o sympathico Lyra conseguido estréar o seu Kinetographo no Theatro Santa Isabel, fará a estréa no edifício em que funcionou a Fabrica de Roupas, no largo da estação da Estrada de Ferro Central de Pernambuco, onde continuará a funccionar durante uma semana, devendo começar no próximo domingo. O público que não deixe de ir apreciar esse apparelho”.

A VIAGEM À LUA

De acordo com Felipe, Lira já adquirira um Kinetoscópio de Edison em 1895. A diferença entre os dois aparelhos é o que o Edison só podia ser visto por uma pessoa, que olhava um orifício para assistir a uma cena animada. Até hoje, as pesquisas indicavam que a primeira sessão de cinema no Recife havia sido com o Kinetoscópio. “Não haveria lógica ele querer fazer a sessão no Teatro Isabel com um aparelho para projeção individual, já que o teatro tinha muitos lugares para o público”, reforça o pesquisador, lembrando que vários aparelhos foram adaptados do Cinematógrapho Lumière, na tentativa de ludibriar a patente do invento do irmãos Auguste e Louis. Depois de abandonar a exploração do Kinetógrapho, Lira foi outra vez à Paris, atendendo um pedido de Delmiro Gouveia, para trazer o primeiro carrossel montado no Recife.

Outra constatação feita por Felipe durante a pesquisa é a rapidez com que os filmes chegavam ao Recife. Na virada do século, os aparelhos se espalharam pelo Recife, através de companhias nacionais e estrangeiras. Em 1903, a Imperial Companhia Japoneza Kahdara de Variedades do Theatro Kabuki exibiu no Teatro Santa Isabel o filme A Viagem à Lua, de George Méliès, que causara sensação em Paris poucos meses antes. “Por ser mais próximo da Europa, muitas coisas chegavam aqui e só depois seguiam para o Rio e São Paulo. Quando revejo A Viagem à Lua, imagino como as pessoas se vestiam em 1903, como eles frequentavam o cinema e como receberam o filme. Essa experiência deve ter sido única”, devaneia Felipe.

As exibições só começara a ter lugar fixo quando as salas começaram a se concentrar na Rua Barão da Vitória, atual Rua Nova, com a inauguração do Cine Pathé, em 27 de julho de 1909, a primeira sala de cinema do Recife.

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