Documentário

'Quarto Camarim' documenta reencontro familiar após 27 anos

Após 27 anos sem contato, a cineasta Camele Queiroz resgata memórias, afetos e realidades a partir de reencontro com tia travesti

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 11/05/2018 às 12:54
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Após 27 anos sem contato, a cineasta Camele Queiroz resgata memórias, afetos e realidades a partir de reencontro com tia travesti - FOTO: Foto: Divulgação
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A distância e o tempo acabam por tornar memórias cada vez menos límpidas e palpáveis. Entretanto, há sentimentos que as permeiam e se mantêm lá, sendo os primeiros a serem resgatados após um reencontro. É o que mostra a cineasta Camele Queiroz, que dirige ao mesmo tempo em que protagoniza o documentário Quarto Camarim, feito em parceria com Fabrício Ramos.

Nele, Camele conversa com sua tia Luma, travesti, que era lembrada pela diretora como seu tio Roniel na infância. A partir dos diálogos entre as parentes, que não se viam há 27 anos, são extraídas reflexões tanto sobre os relacionamentos familiares e suas complexidades, assim como as implicações de ser uma travesti no Brasil.

"O estalo inicial surgiu com a ideia de saber notícias da minha tia que, até então, para mim, era meu tio. Ao ver que esse reencontro era viável, surgiu a ideia de torná-lo um filme. Faço cinema há 10 anos e ele foi sempre pautado na vida, com abordagens livres", explica Camele.

Busca e reencontro

Antes de tudo, a cineasta só estava munida de informações muito antigas sobre Luma, sabendo apenas que ela vivia fazendo viagens e passando pouco tempo nos locais. A partir do contato com uma prima distante, ela descobriu duas coisas importantes para a realização do documentário: a nova identidade do tio Roniel e sua estada em São Paulo.

A partir daí foram três encontros iniciais, aparando arestas familiares, essencial para a liberdade das filmagens, realizadas um ano após. “Foi uma dupla missão ao ser convocada por minha tia para participar do filme. A ideia inicial era que minha presença fosse apenas pontuada por minha voz, mas ela me chamou e aceitei o desafio. Eduardo Coutinho falava que o cinema documentário não é a verdade filmada, mas a verdade da filmagem, foi nessa linha que operamos”, diz Camele.

Dessa maneira, ambas vão se abrindo e se permitindo encontrar um afeto que estava distanciado pelo tempo. “É a partir dessa busca que vem à tona a vida de Luma como travesti, suas experiências profissionais como cabeleireira e até suas aventurar artísticas fazendo performances”, afirma.

Camele relata que, durante a exibição do filme, um dos principais pontos destacados pelo público é, além de expressar dramas familiares universais, a demonstração de uma travesti em espaços não apenas associados a noite, shows e rua. A própria Luma se sentiu impactada ao assisti-lo. “Eu lembro que o mais marcante comentário dela foi de ter gostado de ter se visto com uma mulher forte”, conta a diretora.

Quarto Camarim está circulando pelo país por meio do projeto de difusão da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Ele foi exibido na última quinta-feira no cineteatro das Faculdades Integradas Barros Melo, em Olinda, com um debate em sequência.

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